Enquanto se propala que o governo investirá muitos bilhões na infra-estrutura do País entre 2007 e 2010, o próprio se esfalfa numa discussão em torno do salário mínimo a vigorar em abril vindouro. O relator do projeto de Orçamento da União para o próximo exercício, senador Valdir Raupp (PMDB-RO) havia sugerido R$ 375, mas o ministro Guido Mantega retrucou com a redução para R$ 367, mesmo sabendo das dificuldades que se levantarão no Congresso.
Mas, para o governo, a essa altura, aumentar o desgaste é coisa rotineira. Ocorre que o valor sugerido pelo relator seguiu o acordo prévio com a área econômica, que agora foge da raia. Mantega tirou do fundo do ?saco de maldades?, malfadada metáfora usada pelo ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, para mostrar quão extensa pode ser a mesquinharia do governo, a versão cabalística que o acordo considerou índices de inflação e crescimento do PIB maiores. Como nenhuma das premissas se realizou, mínimo de R$ 375 (as centrais sindicais querem R$ 420), nem pensar.
Mantega abandonou a sutileza e afirmou que no futuro o mínimo deveria aumentar na mesma proporção do crescimento do PIB, a fim de evitar impactos sobre os gastos da Previdência. Hoje, dos 25 milhões de brasileiros que recebem um mínimo por mês, 16 milhões são aposentados ou pensionistas.
O brasileiro, acostumado a sofrer contínuos reveses, pelo provável ato falho do ministro da Fazenda soube de antemão que o PIB, nos próximos anos, vai crescer à velocidade do bicho-preguiça.