Bibliotecas têm fome; leitores têm fome: fome zero a todos!

O título deste artigo por si só já é uma plataforma de governo. Partidos à parte, que assim seja. O objetivo hoje é tão somente lembrar, a quem porventura interessar, a necessidade de investir neste segmento, há tempos esquecido. Como em início de ano os nossos projetos começam a ganhar corpo, tento aqui, representando a voz daqueles que jamais cansaram de pedir, que políticos, empresários e cidadãos, direcionem parte de seus projetos/recursos àqueles que clamam nas bibliotecas.

Políticos podem ajudam preparando projetos e elaborando propostas de parcerias, alternativas para a melhoria do acervo e dos serviços de bibliotecas existentes pelo País afora, e especificamente pelo Estado do Paraná (já me coloco aqui a disposição para ajudar no que for possível). Empresários podem colaborar direcionando parte dos seus investimentos em qualidade de vida, aquela hoje imprescindível aos funcionários e seus familiares, para a construção de espaços de leitura e de pesquisa, dentro das próprias fábricas. Cidadãos podem colaboram cobrando, ajudando, opinando, contribuindo para essas edificações e suas funcionalidades. Todos podem, de uma forma ou de outra, participar de uma construção social de leitura, e essa, se edifica a partir do momento que atos, opções políticas e práticas sociais estiverem em sintonia. Verdadeira construção de cidadania.

As pessoas lêem livros e livros têm custos e os custos precisam ser absorvidos por alguém. Vamos imaginar que o Estado os assuma, ainda assim teremos outros tantos problemas para pensar, juntos, e atuar na solução deles. Um problema já crônico é a questão dos horários de funcionamento das bibliotecas: bibliotecas de uso exclusivo de escolas (???), ou bibliotecas públicas fechadas para o almoço ou nos finais de semana precisam ser urgentemente repensadas. O leitor-trabalhador é automaticamente excluído de uma biblioteca dessas. Qual é o horário disponível para que ele possa acessá-la? Bibliotecários sem formação, sem condições mínimas de trabalho ou com excesso de responsabilidade também representam um problema para uma comunidade que se quer constituir leitora. Questões simples como essas estão na base que compõe o universo de problemas em torno da leitura no Brasil.

Mas, há também outros famintos por livros, uma minoria que ainda consegue adquiri-los, em função do poder aquisitivo. Armando Antongini, diretor-executivo da CBL, diz que o segmento sabe que a mudança nesse quadro só vai acontecer com a ampliação do hábito da leitura e considera que ações de marketing bem estruturadas e freqüentes podem dar o necessário incentivo. Eles já estudam um fundo de marketing provisório que comece a atuar imediatamente, até que o Congresso aprove o fundo definitivo, criado pelo governo chamado ?contadores de história?, categoria que cresce principalmente em programas nas escolas.

Existem no Brasil cerca de 530 editoras ativas e 26 milhões de pessoas que leram pelo menos um livro nos últimos três meses, o que corresponde a 30% da população adulta alfabetizada. O mercado consumidor brasileiro é formado por 17,2 milhões de pessoas alfabetizadas acima de 14 anos que compraram pelo menos 1 livro no ano. Segundo a CBL, a escolaridade é o principal determinante para o maior ou menor distanciamento da leitura de livros. As classes B/C concentram 70% dos apreciadores de livro. De cada 10 não-leitores, sete são de classes com baixo poder aquisitivo. Entre as 17 milhões de pessoas que não gostam de ler livros, 11,5 milhões possuem até 8 anos de instrução. A pesquisa mostrou ainda que 47% dos alfabetizados declaram possuir no máximo 10 livros em casa e apenas 16% da população concentra em casa 73% dos livros. Metade dos livros lidos não são comprados. Seis estados das regiões sul e sudeste concentram mais da metade dos compradores (58%).

Possuidores ou não de recursos financeiros, ainda precisamos construir leitores, possibilitar a deliciosa descoberta do ato de ler. Talvez aí esteja um dos maiores desafios da democracia: socorrer os miseráveis emergencialmente e se preparar para saciar a fome daqueles que ainda nem a tem.

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