São Paulo – O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), disse hoje que o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), terá de explicar-se à população da capital paulista, caso opte por deixar o cargo para disputar a corrida presidencial deste ano, pois, na campanha eleitoral à Prefeitura prometeu que cumpriria o mandato até o fim.
Ao comentar qual dos pré-candidatos tucanos seria mais forte na disputa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Berzoini reconheceu que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) enfrenta a dificuldade de não ser tão conhecido nacionalmente, mas reservou a maior parte dos comentários a Serra.
"O prefeito de São Paulo, José Serra, se sair candidato, vai ter de explicar-se", afirmou Berzoini, durante a gravação do programa "Roda Viva", da TV Cultura, que iria ao ar na noite de hoje.
Logo após as gravações, ele elevou o tom, sugerindo até mesmo que o prefeito de São Paulo está diante do desafio de manter a palavra diante do eleitorado. "Evidentemente, isso será um fato político e não será sequer o PT que vai cobrar, mas a própria opinião pública vai cobrar porque a palavra é algo muito valorizado hoje – não só hoje, mas de maneira geral – em relação aos políticos. Portanto, qualquer tipo de incoerência pode ser cobrado", disse.
Berzoini retomou as críticas ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por causa da entrevista concedida por ele à revista "IstoÉ", há pouco mais de uma semana. Na ocasião, Fernando Henrique fez uma série de ataques ao PT, afirmando até mesmo que a ética do partido é "roubar".
O presidente nacional do PT ressaltou que ele ofendeu a honra dos 840 mil filiados da legenda e insistiu que a direção petista não aceitará as declarações. Berzoini apontou também a possibilidade de alguns petistas moverem ações individuais contra FHC, além da que a sigla interporá.
"O ex-presidente ofendeu a honra de 840 mil filiados em todo o Brasil e tentou entrar no jogo político de forma ofensiva", afirmou, logo após gravar. "A direção do partido não aceita isso e eu percebo, inclusive, um movimento na base do PT para se ter ações individuais, de petistas filiados que se sentiram indignados e não se satisfazem com a ação do presidente do partido", acrescentou.
O presidente nacional petista confirmou que será impetrado amanhã (14), na Justiça Federal, o processo judicial de crime contra a honra que a agremiação decidiu mover contra o ex-presidente.
O embate entre Berzoini e FHC tomou parte significativa da entrevista gravada hoje pelo petista. Na ocasião, Berzoini contrariou a idéia de que a política econômica do atual governo é a mesma conduzida pelo ex-presidente na época em que ocupava a Presidência.
Além disso, afirmou, em diversos trechos, que a gestão Lula corrige erros da administração anterior. Após a gravação, o presidente do PT também reconheceu que o partido sempre fez uma oposição forte ao governo FHC, mas insistiu que a legenda nunca fez ataques semelhantes aos que recebe, atualmente.
"Eu creio que a forma de fazer oposição deve sempre ser decidida pelo partido que coordena. Mas o PT defende que a maior parte do PT sempre fez uma oposição dura, aguerrida, mas sem chegar aos níveis de ataques que foram feitos na última crise política", declarou.
Berzoini destacou também que, apesar de parte da legenda ter estudado um movimento de impeachment de FHC, foram exatamente altos líderes da sigla que optaram por evitar um ataque agressivo demais.
"Eu quero lembrar que, em 1999, vários setores do PT propunham um movimento Fora FHC e que o próprio presidente de então, o (ex) deputado José Dirceu (SP) e outros dirigentes do partido foram contra essa bandeira por acharem que seria uma forma muito agressiva de fazer oposição."
O presidente petista garantiu ter procurado ser "muito sincero, franco e não ser arrogante", ao comentar o fato de ter mantido um tom mais moderado que o do ex-presidente no "Roda Viva", na semana passada.