Subiu ainda mais o tom da guerra pré-eleitoral entre PSDB e PT. Irritado com os ataques feitos pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), anunciou que entrará quarta-feira (08) com uma ação contra ele na Justiça comum de São Paulo por ofensa à honra dos petistas e difamação do partido. Em entrevista à revista "IstoÉ", Fernando Henrique afirmou que "a ética do PT é roubar", que "o PT obteve lealdades em troca de dinheiro", que a legenda quer "manter a sua pureza atolada no lamaçal formado por seus aliados" e que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "é omisso com a corrupção".
"A entrevista é, claramente, de uma pessoa destemperada, que procura com as declarações recuperar a credibilidade perdida", afirmou Berzoini. Para ele, o ex-presidente está em campanha para presidente. "Ele (FHC) tem dado demonstração de uma excessiva inveja do presidente Lula", afirmou o presidente nacional do PT, que o acusou de estar com a vaidade atingida. "Ficar em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto muito distante de Lula deve magoar a vaidade do ex-presidente."
Pouco depois que a sigla anunciou o processo, o PSDB reagiu, trocando mais tiros entre as agremiações. Em nota, a liderança do PSDB no Senado desafiou o PT a provar que FHC não disse a verdade. "Pois o deputado Berzoini está desafiado a iniciar o processo. Está desafiado a provar que o ex-presidente não disse a verdade. Desafiado, portanto, a desmontar a fartura de dados e documentos já colhidos pelas comissões parlamentares de inquérito (CPIs) confirmando que a corrupção que envolve o governo Lula e o PT tinha organicidade e caráter sistêmico", diz o comunicado distribuído pelo líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (PSDB-AM).
Antes de divulgar o texto, Virgílio subiu à tribuna da Casa para dar uma resposta a Berzoini. "O governo patrocinou a mais sistêmica e endêmica corrupção da história do País. Foi um verdadeiro esquema de máfia, e o silêncio está sendo pago a peso de ouro", disse, acrescentando: "O chefe do Delúbio (Soares, ex-secretário nacional de Finanças e Planejamento do PT, que assumiu a responsabilidade por formação de caixa dois do partido) é o Lula."
O secretário-geral do PSDB, deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), disse que o ex-presidente foi "modesto e cortês" nas palavras. "Já está provado que Delúbio montou uma rede de corrupção com conveniência de toda liderança do PT, junto ao governo", disse. "Que o PT é o partido dos mensaleiros, todo mundo sabe. Que montou uma quadrilha para operar em paralelo, também", continuou, para, em seguida, atacar o presidente nacional petista. "No Ministério da Previdência, foi para matar velhinhos, no Ministério do Trabalho, para roubar, e na presidência do PT, para acobertar delinqüentes", afirmou, referindo-se às passagens de Berzoini no governo.
Paes afirmou que foi Berzoini que nomeou ex-secretário-executivo do Ministério do Trabalho Alencar Ferreira, demitido na semana passada por suspeita de irregularidades no setor de informática. Ferreira, no entanto, afirma que pediu demissão.
O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), também entrou no fogo cruzado, afirmando que FHC tem pretensões eleitorais e comparando-o ao jogador de futebol Romário, disse que o ex-presidente não se aposentou. "Não creio que alguém sobe ao pódio para liderar a oposição sem pretensões eleitorais. Sempre achei que o presidente Fernando Henrique, estando na área como Romário, se aparecer a chance, pode marcar (gol). Acho que o presidente Fernando Henrique pode ser candidato à Presidência pelo PSDB e, para almejar este papel, é preciso marcar Lula em cima. É o que ele está fazendo", disse.
Para Rebelo, FHC, desde o primeiro dia do governo de Lula, tem se posicionado como principal líder da oposição. "FHC é um líder respeitável, mas nem todas as vezes que um líder político respeitável fala isto significa que ele esteja certo e que suas palavras correspondam à sabedoria, à temperança, à maturidade e à habilidade que um líder político da envergadura de Fernando Henrique deve ter", completou.