Num documento divulgado ontem no Vaticano, o papa Bento XVI defende que o latim volte a ser usado nas missas – pelo menos nas internacionais -, sugere que o canto gregoriano seja adotado nas igrejas e critica os padres que não seguem as regras litúrgicas e improvisam na celebração das missas.
Com 131 páginas, o documento Sacramentum Caritatis (O Sacramento do Amor) é a primeira exortação apostólica de Bento XVI, papa desde abril de 2005. Essa exortação é uma espécie de resumo do que se discutiu no último Sínodo dos Bispos, em outubro do mesmo ano, no Vaticano, e vale como orientação para os religiosos do mundo todo.
O latim deixou de ser língua obrigatória nas missas em meados dos anos 60, após o Concílio Vaticano II abrir caminho para a modernização da Igreja. Desde então, as celebrações são nas línguas locais. Essa primeira grande mudança permitiu o surgimento dos carismáticos, suas músicas dançantes e seus padres performáticos.
Com o documento tornado público ontem, Bento XVI – que virá ao Brasil em maio – reafirma suas convicções conservadoras. Antes de ser papa, ele era o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e tinha como função zelar pela ortodoxia católica. Na época, principal figura da linha dura do Vaticano, ele perseguiu religiosos progressistas como Leonardo Boff e o bispo emérito de São Félix do Araguaia, d. Pedro Casaldáliga.
"Nessa exortação, o papa retoma aspectos tradicionais e conservadores e, de certa forma, volta ao período anterior ao Concílio Vaticano II", diz Fernando Altemeyer, professor de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Altemeyer acredita que o uso do latim em missas servirá para ‘qualificar a ignorância em lingüística e semântica’ da população e do próprio clero. "Os grupos conservadores vão adorar isso. Mas precisamos lembrar que não temos um clero capaz com formação em latim. Vai ser estranhíssimo o latim macarrônico", prevê.
O documento do Vaticano sugere que os padres evitem as confissões comunitárias, não permitam que a parte da missa em que os fiéis se cumprimentam dizendo ‘a paz de Cristo’ se estenda demais e provoque distração e cuidem da estética das igrejas, principalmente as obras de arte e a arquitetura.