A comunidade muçulmana no Brasil – que tem cerca de 1,5 milhão de pessoas, das quais 400 mil no Estado de São Paulo – gostaria que Bento XVI fosse mais político e pedisse perdão pelas referências consideradas ofensivas que fez a Maomé e ao Islã. Mas seus líderes não querem pôr lenha na fogueira, estendendo a todos os católicos o que interpretam como uma posição pessoal do papa.
"Esperávamos que o chefe máximo da Igreja se desculpasse, pois o que ele falou é muito grave numa hora em que os muçulmanos sofrem discriminação em vários países", disse o xeque Jihad Hassan Hammadeh, vice-presidente da Associação Mundial da Juventude Islâmica. Sírio naturalizado brasileiro, ele atua na mesquita de São Bernardo do Campo.
Hammadeh acha lamentável que o papa não tenha conhecimento mais profundo do Islã, como ficou parecendo, em sua opinião, por algumas afirmações feitas no discurso que pronunciou na Universidade de Regensburg. "Não foram apenas as críticas ao profeta Mohamad (Maomé), citando um imperador bizantino, pois são equivocados também os trechos referentes à jihad e à racionalidade", observou o xeque.
"Jihad não significa só guerra santa, mas todo esforço em busca do bem", explica Hammadeh, que por coincidência carrega essa palavra árabe no nome. "Jihad é o empenho pelo bem na escola e no trabalho, é o esforço de quem luta internamente contra os próprios defeitos e sentimentos negativos." Para Hammadeh, a tradução desse preceito islâmico por violência e guerra é falta de informação ou má intenção daqueles que pretendem combater o islamismo.
"Estamos falando de um grande líder, o papa, que cometeu um erro e agora, só por orgulho, se recusa a pedir desculpas." Após divulgar uma nota de repúdio aos conceitos emitidos pelo papa, o xeque aconselha os muçulmanos brasileiros a tratar a questão em tom ameno, para não acirrar a reação. "Não queremos que ocorra no Brasil, onde temos boa convivência com outras religiões, o que ocorre em outros países", disse Hammadeh.