O papa Bento XVI anunciou aos cardeais, na missa de encerramento formal do conclave, hoje de manhã, na Capela Sistina, a firme decisão de levar adiante a atualização do Concílio Vaticano II, na trilha de seus predecessores, dentro da "bimilenária tradição" da Igreja.

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"Com o passar dos anos, os documentos conciliares não perderam a atualidade, mas, ao contrário, seus ensinamentos se revelam particularmente pertinentes com relação aos novos desafios da Igreja e da presente sociedade globalizada", afirmou o papa.

Escrito e lido em latim, o texto, de 180 linhas, usa o plural majestático, que o Serviço de Informação do Vaticano (VIS) traduziu para o italiano usando a primeira pessoa do singular. Foi uma adaptação de uma versão mais solene, que era usada também pelos papas anteriores, ao estilo mais coloquial de João Paulo II.

Bento XVI iniciou a mensagem com uma declaração de humildade, ao confessar "uma sensação de incapacidade e de humano sobressalto" pela responsabilidade que lhe foi confiada "como sucessor de Pedro na Igreja de Roma e da Igreja universal". Ao mesmo tempo, o novo papa reafirma a confiança de que Cristo não abandonará seu rebanho.

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"Considero esse fato uma graça especial que me foi obtida pelo meu venerado predecessor, João Paulo II", disse o papa, revelando que, nesse momento, tem a sensação de que João Paulo II aperta sua mão e, com os olhos sorridentes e voz forte, lhe repete: "Não tenha medo!"

Bento XVI, o cardeal Joseph Ratzinger da Congregação para a Doutrina da Fé, citou João Paulo II seis vezes em sua mensagem aos cardeais – sinal indiscutível de que pretende dar continuidade ao pontificado do papa a quem serviu na Cúria Romana durante mais de 23 anos.

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Seu primeiro compromisso nessa linha, conforme anunciou, foi a confirmação da Jornada Mundial da Juventude, prevista para agosto em Colônia, na Alemanha, à qual João Paulo II prometera comparecer.

Mantendo a agenda, o papa confirma sua primeira viagem ao exterior – por coincidência, à sua pátria.

Criticado e às vezes temido pela sua atuação na Congregação para a Doutrina da Fé, quando advertiu e puniu vários teólogos, entre os quais o brasileiro Leonardo Boff, o novo papa tem uma palavra de incentivo à pesquisa, dentro dos limites em que ela deve se enquadrar.

"O diálogo teológico é necessário, o aprofundamento das motivações históricas de alguns conceitos levantados no passado é indispensável", afirmou Bento XVI, advertindo, no entanto, que o mais importante é, como lembrava João Paulo II, a ‘purificação da memória’ que leva os ânimos a acolher a plena verdade de Cristo.

O papa promete apoiar a causa do ecumenismo, dispondo-se a acolher toda iniciativa que "possa parecer oportuna para promover contatos e intercâmbio com os representantes das mais diversas igrejas e comunidades eclesiais".

Bento XVI faz um balanço otimista dos 26 anos de pontificado de João Paulo II: "Ele deixa uma Igreja mais corajosa, mais livre, mais jovem", ou seja, "uma Igreja que, segundo seu ensinamento e seu exemplo, olha o passado com serenidade e não tem medo do futuro".

Mais de um dos 114 cardeais que ouviram a mensagem do papa disse ter tido dificuldade para entender o latim, talvez devido à acústica da Capela Sistina. Bento XVI parece ter passado a noite em claro para preparar o texto, a tempo de ter o original e a tradução italiana prontos antes da missa, que começou às 9 horas da manhã.