Bênção, Tio Sam

Na história brasileira há episódios que, se não fossem ridículos, seriam trágicos. Um deles foi um antigo presidente do Brasil beijando a mão do então presidente dos Estados Unidos. A admiração pelas coisas norte-americanas sempre foi um costume entre nós, mas uma reverência tão humilhante não condiz com a nossa mania de andar por aí gritando ?gringos, go home?. A referir-se a um outro recôndito sentimento brasileiro em relação à grande nação do Norte há também a conhecida frase ?o que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil?. A macaquice ainda está entranhada nos nossos hábitos. Em quase tudo, nas terras tupiniquins, são usadas palavras em inglês: delivery, brother, shopping center e por aí vai. Ao contrário, os vizinhos de língua espanhola têm conhecimento de que também são América, mas traduzem para sua língua as expressões em inglês. Aliás, os estadunidenses se apropriaram da designação América quando são tão americanos como os paraguaios, os colombianos ou nós, brasileiros. No que toca à reverência, ela se mantém, mas contraditoriamente, também a mania do ?gringos, go home?.

Mas já não se pensa que tudo o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil. De alguma forma, se bem que não raro por razões ideológicas ou motivos equivocados, os presidentes da Venezuela, do Equador, da Bolívia e da Argentina, com seus eleitores, estão contribuindo para desmanchar essa idéia de interesses comuns. Mas eles existem e o Brasil de Lula, um esquerdista arrependido ou um conservador novato, está em cima do muro buscando agradar a gregos e troianos.

Mas uma coisa é o que se diz ou pensa e outra pode ser a realidade. E a realidade está sendo revelada, em capítulos, num relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), que, ao contrário do que muita gente pensa, não é norte-americano, mas uma entidade pertencente a uma centena de países do mundo. Inclusive o Brasil. O relatório, na parte que já foi publicada, aborda um tema muito importante. Afinal, o que aconteceria se a economia norte-americana claudicasse? A conclusão dos técnicos do FMI é que, na América Latina, todos os países seriam prejudicados, mas o Brasil levaria a pior.

Se o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cair 1%, a economia latino-americana cairá em média 0,2%. O Brasil, em função do volume de negócios que mantém com os EUA, sofreria um recuo de 0,75% no seu desempenho econômico. Seria a maior queda de toda a região. Teríamos um recuo maior até do que foi estimado para o México, que é de 0,6%. Se considerarmos que o nosso PIB, mesmo tendo crescido mais do que anunciou o nosso governo, pelo milagre de ?mudança de metodologia?, o que o governo aplaudiu e o povo nada sentiu, o que é ótimo para as autoridades e nada refresca para a nação – é o País que menos cresce na América Latina -, chegaremos à conclusão de que o prejuízo por aqui será bem grande.

O novo slogan agora deve ser ?se os Estados Unidos espirram, o Brasil pega resfriado?.

A desaceleração econômica dos EUA não é uma hipótese pouco provável. No campo do mercado imobiliário, por exemplo, a economia estadunidense já está com o pé no freio. Os juros foram elevados substancialmente e há um temor constante e crescente de desaceleração econômica. A solução é, sem abandono de nossos negócios com os Estados Unidos, nosso maior mercado, começarmos a tomar doses cada vez mais fortes e contínuas da aspirina que é a entabulação de negócios crescentes com o resto do mundo. E, aí, parece que a política do governo Lula está no rumo certo.

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