BC mexerá em nosso bolso

Boa parte do mercado, esse ente abstrato que tanto vem castigando nossa economia, não gostou da atitude do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que indicou Henrique Meirelles para presidir o Banco Central, cessando uma dúvida que servia de mote para a especulação financeira grassar em nosso País.

Os que vêm manifestando-se com desgosto pela indicação de Meirelles se baseiam principalmente na alegação que falta a ele experiência de “operador de mercado”. Desejavam um nome acostumado a diariamente travar a queda-de-braço com as mesas de operação do mundo, na batalha dos ganhos exigidos pelos administradores de recursos de terceiros e, felizmente raras vezes, de interesses próprios.

Aos praticantes dessas ações, onde o nome do jogo é a busca do lucro a qualquer preço, não interessa ter no Banco Central um gestor, que necessariamente deverá implementar um plano de ações voltado a uma consistente política monetária.

As buscas do equilíbrio das contas públicas, da estabilidade dos preços e da realidade cambial são fatores que Meirelles, segundo suas declarações, considera indispensáveis para a redução dos juros a patamares toleráveis – condição básica para a promoção do crescimento auto-sustentável do País.

Confundir Armínio Fraga, que vem exercendo o cargo de Meirelles, com um mero “operador de mercado” é, no mínimo, demonstrar uma obtusa ignorância do papel do Banco Central na política econômica de um país. Mais do que isso, é uma tremenda injustiça à real dimensão de sua atuação.

Armínio, um competente economista com formação econométrica, com visão “macro” do País, realmente gosta de “operar o mercado”, papel mais visível de sua atuação ao grande público. Seu sucesso, porém, reconhecido pela comunidade de negócios, foi marcado pela competência e firmeza na gestão da moeda. Armínio liderou uma diretoria colegiada, cuja principal tarefa foi a de manter uma bem-sucedida política monetária que se revelou extenuada nos últimos sete meses, clamando por revitalização perante o atual momento do Brasil.

Henrique Meirelles é o profissional que recebeu do presidente eleito tal incumbência, após uma árdua corrida do Partido dos Trabalhadores contra o tempo, na busca de um nome para o Banco Central. Alegar que Meirelles não tem experiência de mercado ou formação técnica para comandar a política monetária é, no mínimo, uma grande ingenuidade. Não vamos ignorar que o notório Alan Greenspan era um reverenciado acadêmico, economista, sem qualquer experiência de mercado quando assumiu a presidência do Fed, o banco central americano.

Certamente todos que participam do mercado financeiro conhecem a trajetória de Meirelles no BankBoston, que presidiu por 12 anos, além de outros 6 anos à frente do FleetBoston, de onde saiu para ser eleito deputado federal.

Enquanto executivo financeiro, Meirelles montou uma competente equipe, que fez seu banco galgar a posição de um dos maiores do País. Fez escola, espraiou seu estilo e certamente a equipe que deverá montar para a diretoria colegiada do BC atenderá tais características. A repercussão da nomeação no exterior já se fez sentir. Os C-bonds da dívida externa brasileira vêm mantendo-se com tendência de alta, num mercado em queda acentuada. Atente que, após as eleições, os C-bonds sinalizavam valor de face bem inferior aos agora registrados. É inegável que o mercado internacional suspira aliviado e sinaliza de maneira firme a reconstrução da confiança no Brasil.

Quem renunciou a um dos mais cobiçados cargos do planeta, quem adiou o sonho de uma carreira política, certamente não pretende jogar tudo para o alto, numa gestão insípida, pequena, à frente do BC. Meirelles tudo fará para ter êxito e consolidar a fama de vencedor. O mercado conta com isso. O Brasil agradece.

Walter Machado de Barros

é presidente eleito (gestão 2003-2004) do Ibef (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças/SP).

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