Não houvesse outra razão para compreender a gravidade da crise interna do Partido dos Trabalhadores, a súbita lavagem de roupa suja, entre o ex-deputado José Dirceu, o ex-presidente interino da executiva nacional Tarso Genro e o secretário-geral Raul Pont, é a parte visível da profunda desavença que conduziu o partido a esse estágio de devastação interna.
O afloramento da discussão acalorada e, inconcebível, há pouquíssimos meses – não há dissimulação capaz de esconder o prejuízo – prende-se ao fato notório do processo de apropriação dos principais cargos da direção nacional, concebido e executado pelo ex-chefe da Casa Civil da Presidência, o amigo mais recente de Paulo Coelho.
Como o projeto para o PT e, por extensão, para o governo Lula e seus sucessores deu com os burros n?água, a expiação das culpas exigia uma postura menos intransigente e autoritária daquele que assumira a condição de grande timoneiro, mas enganou-se no critério de escolha dos remadores.
No contrapé, Dirceu aproveitou a ida aos Pireneus para passar uns dias na casa do argentário escritor, para destilar amarga frustração com a frieza com que foi tratado pelos operadores da transição lá colocados, é forçoso reconhecer, com o referendo do próprio Lula.
Dirceu havia declarado ser o PT uma página virada em sua experiência política, eanimando uma fogueira de vaidades que ainda tem muita lenha para queimar.
A resposta da tropilha pampeana, os patrões Tarso e Pont à frente, veio na forma de desabrida censura à posição considerada autoritária, desagregadora e paupérrima de autocrítica de quem deveria assumir, com toda justiça, o maior naco de responsabilidade pelos desvios éticos causados pela frágil formação política dos homens escalados para a direção nacional do partido.
Dentre os analistas cogita-se que o então ministro José Dirceu, ao conceber a planta interna do governo, encarnou a postura do todo-poderoso Sérgio Motta, no primeiro mandato de FHC, que no auge da bravata vaticinou um período mínimo de vinte anos para a vigência do vicariato tucano.
Os batedores sulistas, insuflados pela aspereza da peleia em campo aberto, não têm pejo de pregar a necessidade de refundação do PT, diante da avidez com que o partido afundou-se na areia movediça de práticas até então renegadas como pecado mortal.
A batalha intestina do PT está apenas começando.