Bastos e Teixeira vão ao Congresso, mas alvo da oposição é Lula

O governo e o PT contam com a experiência do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e com a discrição do advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para reduzir o desgaste que sofrerão esta semana no Congresso. Teixeira vai depor terça-feira (18) na CPI dos Bingos. Bastos falará sobre o episódio da violação da conta bancária do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Nos dois casos, o alvo da oposição será o presidente.

Além disso, na quarta-feira, haverá a votação em plenário do pedido de cassação de mandato do deputado José Mentor (PT-SP), aprovado pelo Conselho de Ética. O mais provável é que o petista seja absolvido, subindo para nove o número de deputados suspeitos de envolvimento no mensalão que conseguiram se livrar da pena máxima.

Oficialmente, Roberto Teixeira dará explicações para a acusação de que participava de um esquema de extorsão e caixa 2 para o PT, na década de 90. Mas os ataques irão para Lula, que viveu durante vários anos em uma casa emprestada por Teixeira, em São Bernardo do Campo, SP. "A CPI vai querer aprofundar a relação de Roberto Teixeira com o presidente Lula. É um depoimento que chega ao presidente", diz o senador tucano Álvaro Dias (PR), integrante da CPI. "Quando alguém faz um favor, pressupõe uma contrapartida. Existe uma relação de interesse financeiro entre Roberto Teixeira e o presidente", acredita o senador.

Márcio Thomaz Bastos dirá que "é absolutamente inverossímil" a informação sobre um suposto suborno de R$ 1 milhão para quem assumisse a culpa pela violação da conta bancária. "Não é verdade nem parece verdade", afirma o ministro. Embora Thomaz Bastos seja tratado com respeito pelos oposicionistas, o que tende a ser mantido no depoimento, o objetivo, mais uma vez, será atingir o presidente Lula.

"O ministro Márcio Thomaz Bastos é o advogado da organização criminosa em que se transformou o governo. Ele advoga para o crime", diz o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA). Apesar do ataque, Aleluia defende a permanência de Bastos no cargo. "Se ele sair do governo, é pior para o País. Não acredito que o ministro seja sangrado no Congresso. Será pressionado, mas é preparado para isso", afirma o deputado.

Amigo de Thomaz Bastos, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) diz que foi "uma burrice" dos governistas aceitar o depoimento na Câmara, se for realmente decidido. "É uma loucura com L maiúsculo, eu disse isso a ele (Bastos). A Câmara é uma Casa sem controle, ninguém respeita ninguém. Mas ele disse que não queria parecer estar se negando a comparecer", conta ACM.

Thomas Bastos mostra que reagirá com indignação a qualquer insinuação de que participou da suposta tentativa de suborno para acobertar a responsabilidade de autoridades como o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci na quebra ilegal do sigilo bancário de Francenildo. "O que é isso? Eu sou ministro da Justiça. Alguém acha que na minha frente iriam fazer uma proposta dessas? É uma história surreal, uma invenção", responde

Dizendo estar "chateado, magoado, mas tranqüilo", Avalia que resistirá ao bombardeio dos parlamentares. "Todos os pontos da minha narrativa ao Congresso serão verdadeiros", insiste. Em seu depoimento, o ministro contará que avisou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a gravidade do caso envolvendo a quebra de sigilo do caseiro seis dias antes da saída do então titular da Fazenda, Antonio Palocci.

Dirá, porém, que naquele momento o governo ainda não podia sustentar que Palocci participara da violação dos dados de Nildo. "Eu disse que a situação era grave e séria, mas ainda não tínhamos a dimensão total do caso. De um lado estava o ministro da Fazenda e, portanto, a investigação não poderia ser uma coisa precipitada", tem argumentado Bastos, em conversas reservadas.

No caso de Roberto Teixeira, a oposição vai explorar a proximidade do advogado com o presidente para tentar provar que Lula sabia da existência de um suposto esquema de corrupção em prefeituras petistas no Estado de São Paulo. O compadre do presidente foi acusado pelo ex-petista Paulo de Tarso Venceslau, ex-secretário de Finanças de Campinas e de São José dos Campos, de usar a empresa CPEM, contratada por várias prefeituras, para desviar dinheiro e montar o caixa 2 petista. Segundo Venceslau, Teixeira agia com outro amigo do presidente Lula, o atual presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, que nega todas as acusações.

Álvaro Dias lembra, porém, que são grandes as chances de o compadre do presidente obter um habeas-corpus no Supremo Tribunal Federal que o livre da obrigação de responder a todas as perguntas. "A gente fica sempre na expectativa de ter um depoente calado ou alguém que realmente dê informações", lamenta o senador. Dias e Aleluia não têm dúvida sobre a absolvição de Mentor, para eles fruto de um "acordão" entre partidos governistas. "Vai servir para renovar a raiva da opinião pública A chama da indignação reacende", diz o senador.

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