Daniel Dantas, o todo-poderoso banqueiro do Opportunity, teme ser preso pela Polícia Federal. Mas não quer silenciar. Hoje (17) ele reafirmou a disposição de depor na CPI dos Bingos, desde que a sessão seja secreta. "Eu tenho a informação de que o governo quer utilizar a Polícia Federal como instrumento. Ainda que não tenha qualquer amparo legal, eles querem botar o cachorro para morder", disse Dantas, em conversa em sua mansão, na Península dos Ministros, no Lago Sul de Brasília. Na sua avaliação, a ameaça seria uma forma de pressioná-lo a recuar na queda-de-braço com os fundos de pensão que participam da administração da Brasil Telecom.

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Parece que a pressão está dando certo. Mais que o desejo de continuar na briga, Dantas começou a emitir sinais de que pretende chegar a um entendimento com o Palácio do Planalto. Ao contrário do que muitos oposicionistas podem imaginar, Dantas não pretende transformar a CPI em trincheira para disparar contra o governo. Quem conversa com ele, percebe claramente que o banqueiro tenta se reapresentar não mais como ameaça ao Planalto.

Em seu contorcionismo, Dantas deseja falar para os parlamentares sobre o processo por quebra fiduciária a que responde em Nova York em sessão secreta, para não correr o risco de ter a situação agravada por quebra de confidencialidade. Ele está impedido pela Justiça americana de discutir publicamente os detalhes da ação. "Talvez seja melhor falar em sessão secreta. Mas CPI tem o risco de criar novos problemas", diz.

Nesse jogo sinuoso, o banqueiro passou o dia recebendo interlocutores com trânsito no governo para explicar que não foi ele quem passou para a revista "Veja" informações sobre supostas contas bancárias da cúpula do PT e do presidente Lula no exterior. Foi além. Dantas, o homem que contratou o espião Frank Holder, da Kroll, para investigar os petistas, admitiu que os supostos documentos podem não ser verdadeiros e desconfia até dos valores registrados nas contas. "Seria uma insanidade passar essas contas. A """Veja""" está em guerra com o governo e quer me usar como bucha."

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Violação

Para Dantas, ainda que ele tivesse repassado informações sobre as contas – atitude que ele nega reiteradamente -, em seus cálculo não haveria crime. Alega que, até no caso de as contas terem sido inventadas ou criadas por alguém, o fato de ter manuseado não constituiria crime. Argumenta ainda que, na hipótese de as contas serem legais, o crime de quebra de sigilo dependeria da legislação em vigor nos países houve a violação.

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No decorrer da conversa, porém, Dantas confirma basicamente boa parte do conteúdo da reportagem da revista. Ele contou que o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares procurou Carlos Rodenburg, um dos sócios do Opportunity, para pedir ajuda financeira da ordem de US$ 50 milhões para cobrir déficit do PT. Segundo ele, o dinheiro não teria sido doado. "Mas eu não sei se ele chegaram a qualquer acordo com o Citi (Citibank)."

O banqueiro reafirmou histórias que ocorrem próximas a ele, mas nas quais nunca admite para si o papel de protagonista. Contou que o ex-presidente do Banco Popular, Ivan Guimarães procurou o seu sócio para oferecer um kit do PT em troca de ajuda para o partido.

Relembrou que Fábio Luís Lula da Silva, filho do presidente, conhecido como Lulinha, manteve entendimentos preliminares com Yon Moreira da Silva, ex-diretor de Negócios Corporativos da Brasil Telecom, para que a empresa e a Gamecorp fechassem um negócio da ordem de R$ 1,5 milhão, podendo chegar a R$ 6 milhões

Ele joga para os executivos da Brasil Telecom a responsabilidade pelos contratos com Roberto Teixeira, amigo de Lula, e com o advogado Antônio Carlos Almeida Castro, o Kakay, ligado ao ex- ministro José Dirceu, que teria recebido R$ 8 milhões. "Esses contratos menores não passavam por mim, eu nunca fui do conselho de administração, não tratava dessas coisas e, pelo que eu sei, Kakay enviou uma lista grande com tudo para a Brasil Telecom."