Presos armados de escopetas, pistolas e revólveres mantiveram sete policiais militares reféns durante dez horas, depois que cinco detentos fugiram da Casa de Custódia Jorge Santana, no complexo prisional de Bangu, por volta das 5 horas desta sexta-feira.
Um dos fugitivos foi recapturado pouco depois, mas os outros ainda não haviam sido encontrados até as 15h30 desta sexta, quando terminou a rebelião.
Em média, um motim por mês
É o quarto motim nos últimos quatro meses, e o segundo em dez dias na unidade, que abriga 548 pessoas, sob a guarda da PM. Destinada a presos à espera de julgamento, 150 já foram condenados, mas continuam lá enquanto não se abrem novas vagas em presídios do Desipe (Departamento do Sistema Penitenciário).
No início da ação, houve troca de tiros entre detentos e PMs, auxiliados por agentes do Serviço de Operações Especiais do Desipe. Na tentativa de fuga, pelo menos dois rebelados ficaram feridos e foram levados para o Hospital Albert Schweitzer, em Realengo (zona oeste do Rio). Um policial também foi atingido de raspão na cabeça. Todos estão fora de perigo.
“Falha individual”
Para o comandante-geral da PM, coronel Francisco Braz, a rebelião foi possível por “uma falha individual” de um dos responsáveis pela segurança. O diretor da unidade, subtenente Lucídio Amiche, foi exonerado do cargo e substituído pelo major Ari Jorge Santos, homem de confiança e ajudante-de-ordens de Braz.
Botijões de gás
Os detentos teriam dominado um dos policiais e tomado a sua arma para, em seguida, invadir o depósito de armas da unidade e render os outros seis PMs. Os cadarços dos coturnos das vítimas foram usados para amarrá-las a botijões de gás, que os presos ameaçavam explodir caso de as forças de segurança entrassem no local. Cerca de 150 homens cercavam a cadeia.
O pátio e o telhado da prisão foram inteiramente tomados, desde o início da manhã desta sexta, pelas centenas de amotinados, que – na maioria encapuzados – , portavam bandeiras vermelhas, em alusão ao Comando Vermelho.
A casa de custódia é ocupada apenas por criminosos dessa facção criminosa, assim como os presídios Bangu 1 e 3. O governo evita colocar juntos integrantes do bando rival Terceiro Comando. Os rebelados exigiam a troca da empresa fornecedora de refeições e a transferência dos condenados que cumprem pena lá.
Presos reclamam da comida
Na noite da última terça-feira, o prédio da distribuidora Panflor, que fornece quentinhas para três unidades do Complexo Penitenciário de Bangu, entre elas a casa de custódia, fora metralhado. Dois cartazes reclamando da comida foram deixados na porta da empresa.
Do lado de fora, equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope), seriam acionadas em uma eventual necessidade de invasão. Pelo ar, o dirigível da Secretaria de Segurança Pública e um helicóptero da polícia sobrevoavam a região, em apoio e à procura dos foragidos. Uma mata cerrada e uma favela cercam o complexo prisional.
O comandante Braz desde o começo queria evitar o uso de força e comandava as negociações de um centro de operações improvisado no 14º Batalhão da PM (Bangu), a menos de um quilômetro da Jorge Santana. Por volta das 14 horas, ele disse que os entendimentos estavam avançados e que “qualquer atitude coercitiva” só seria tomada quando todas as outras possibilidades estivessem esgotadas.
Uma hora depois, os rebelados depuseram armas e libertaram os reféns. A governadora Benedita da Silva disse que, apesar dos problemas, a polícia tem feito um trabalho eficiente. ?Estamos dando duro, e essa rebelião aconteceu porque a polícia frustrou outras tentativas de fugas, descobriu túneis e armas. Isso tem incomodado.?
“Facilitadores”
A governadora admitiu a existência de ?facilitadores? nos presídios e disse que pretende puní-los assim que forem identificados. ?O que nós lamentamos é que existam, e estamos procurando dentro Polícia Militar, da Polícia Civil ou onde estiverem. É a polícia que nós temos e estamos procurando aprimorá-la.?