São Paulo, 29 (AE) – Cerca de 20 criminosos armados e encapuzados roubaram, entre a madrugada e manhã de ontem (28), o Condomínio Congonhas do Campo, na Rua Francisca Júlia, em Santana, Zona Norte. O bando entrou no edifício e permaneceu por sete horas no local. Lá fez cerca de 60 reféns, entre moradores e funcionários, e fugiu num carro com jóias, dinheiro, notebooks armas e celulares.
Dois suspeitos foram presos, entre eles o soldado da 4ª Companhia do 5º Batalhão da Polícia Militar Anderson Gonçalves Viana, 29 anos.
Por volta das 4h30, um dos assaltantes pulou o portão e rendeu um porteiro que estava na guarita. O bandido obrigou o funcionário a abrir o portão para os comparsas. Com toucas ninjas e armados com pistolas e revólveres, os bandidos renderam os moradores. O condomínio tem 20 apartamentos (um por andar). A quadrilha entrou em 13 deles. Os reféns foram levados para a garagem e tiveram os pés e mãos amarrados com fitas adesivas. Às 11h30, os criminosos saíram do prédio. No local, eles abandonaram um Ford Focus roubado e levaram uma Ford Courrier de um dos moradores.
A polícia foi avisada e realizou buscas na região. O primeiro a ser detido foi o desempregado Cléber César da Silva, 23 anos. Ele foi abordado na Rua Augusto Tolle. O rapaz carregava uma sacola com uma pistola 9 mm, pé-de-cabra, alicate, fita adesiva e um relógio da marca Bulova, avaliado em US$ 2,5 mil e que pertence a um morador do prédio.
No momento em que viu os PMs, o rapaz jogou a sacola atrás de uma árvore. "Ele (Silva) ia para casa de um amigo, quando foi preso. Os dois pretendiam ir à cidade de Aparecida pagar uma promessa", disse o advogado dos dois suspeitos, Mário Viggiani. O desempregado é cunhado do soldado Viana. Silva levou a polícia até a casa onde mora, na Vila Nova Galvão, Zona Norte.
No quarto de Silva foram encontrados R$ 25 mil, US$ 300, jóias, relógios e celulares. "O dinheiro é uma economia do meu cliente e da noiva para dar entrada na compra de um apartamento", disse o advogado Viggiani.
Questionado sobre se não seria mais seguro guardar o montante num banco, o advogado respondeu: "Vai que aparece um Collor da vida!", referindo-se ao confisco bancário na gestão do presidente Fernando Collor de Mello.
Na casa, havia um Audi, avaliado em R$ 250 mil, registrado no nome da mãe do policial.
O PM foi preso por porte ilegal de munições. Ele tinha cargas para vários tipos de arma. "É um absurdo um policial ser preso por porte ilegal de munição. Ele comprou com o próprio dinheiro e usaria durante o serviço", disse Viggiani.
A corregedoria da Polícia Militar e a Polícia Civil investigam se Viana teve alguma ligação com o arrastão. No meio da madrugada de ontem, o soldado foi transferido para o presídio da PM Romão Gomes. O caso foi registrado no 20º Distrito Policial, na Água Fria.
Dos cinco casos de arrastão em prédios, dois aconteceram no último fim de semana. O primeiro caso aconteceu na noite de sexta-feira, quando sete criminosos invadiram o Flat Higienópolis, localizado na Rua Baronesa de Itu, em Higienópolis Zona Oeste da Capital. Os bandidos passaram duas horas no lugar e renderam todos a medida que iam chegando.
Fugiram antes de a polícia aparecer, com televisões, aparelhos de DVD, celulares e dinheiro dos moradores. O assalto começou às 21h. Dois integrantes da quadrilha – um homem e uma mulher – tocaram o interfone do hall e disseram ao porteiro que queriam saber o preço da estadia. O porteiro abriu e foi dominado em seguida.
Então o resto do bando entrou. Parte do grupo foi para a garagem. Outros ficaram na entrada. Pelo menos um ficou incumbido de vigiar o porteiro (e os reféns que estavam por vir) num quarto utilizado por funcionários do flat.
Os criminosos ameaçavam a todos. Logo que chegavam ao prédio, os moradores tinham que entregar o celular e todo dinheiro que carregavam. Alguns tiveram pior sorte. Foram escolhidos para subir com os criminosos, que pretendiam vasculhar a maioria dos apartamentos em busca de materiais de valor.
Pelo menos seis apartamentos foram roubados. O Flat Higienópolis tem 12 andares, com quatro apartamentos por andar. A movimentação do bando era discreta. Mas um porteiro de um prédio vizinho percebeu algo de estranho e tratou de chamar a Polícia Militar. Os criminosos, entretanto, estavam de saída. O caso foi registrado como roubo no 77º Distrito Policial, em Santa Cecília.
ARRASTÃO EM MOEMA – No último dia 3, dez famílias de um luxuoso condomínio de Moema, Zona Sul da Capital, viveram quatro horas e meia de pânico, reféns de 20 ladrões armados com metralhadoras, fuzis e granadas. Os moradores tiveram prejuízo de R$ 1 milhão. Quinze dias depois, dois prédios de luxo na Zona Leste também foram invadidos por ladrões.
Os assaltos dessas quadrilhas especializadas chamaram a atenção até de bandidos menos experientes. No dia 19 de outubro, Dalmo dos Santos, 39 anos, foi preso ao tentar, sozinho, invadir e roubar um prédio da Rua Augusta, no Centro. O assaltante usava apenas uma faca.
