O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo já fez a sua parte para reduzir o spread bancário, como a criação do crédito consignado e a alienação fiduciária e, agora, os bancos é que teriam que tomar providências. "A Febraban tem que abrir um pouco a mão, tem que lucrar um pouco menos e reduzir o spread dela", salientou o ministro em entrevista ontem à noite ao programa Conta Corrente, da TV Globo News. Ele adiantou que na reunião do Conselho Monetário Nacional, no próximo dia 29, algumas medidas deverão entrar em vigor, como o cadastro positivo.
O ministro também adiantou que deverá tomar medidas que facilitem a mobilidade dos correntistas, a fim de aumentar a concorrência entre os bancos. "Tem bancos que querem que a competitividade aumente. E é por isso que eu acho que vai dar certo", frisou o ministro. Ao ser lembrado de que a CPMF acaba sendo um empecilho para essa movimentação, Mantega admitiu que poderá vir a tomar medidas para contornar o problema. "Se a CPMF for o obstáculo, nós faremos os ajustes necessários", prometeu.
O apresentador Guto Abranches citou nota da Agência Estado em que o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Roberto Troster, chegou a classificar as medidas para reduzir o spread bancário como "manobra diversionista". "O doutor Márcio (Cypriano, presidente da Febraban) me ligou há pouco dizendo para desconsiderar as declarações do Troster porque não são declarações que refletem o pensamento da Febraban", salientou Guido Mantega. Em nota divulgada ao longo da quinta-feira, a própria Febraban desautorizou as declarações o seu economista-chefe.
O ministro disse ainda que o presidente da entidade garantiu continuar colaborando com o governo na redução dos spreads. "Portanto, ele está desmentindo as declarações do Troster, que, por sinal, foram um tanto quanto indelicadas", cutucou o ministro.
Contas públicas
Ainda durante a entrevista, Guido Mantega desmentiu que o aumento de gastos do governo possa provocar desequilíbrio nas contas públicas. "Eu garanto que nós vamos continuar fazendo o superávit primário de 4,25%, as contas públicas estão sob controle e as despesas estão aumentando de forma controlada", afirmou.
Ao dar como certa a reeleição de Lula, ele disse que, se for necessário, o governo poderá tomar medidas para reduzir as despesas nos próximos anos. "Eu assumo o compromisso aqui – se eu evidentemente estiver na pasta da Fazenda – de que nós continuaremos fazendo 4,25% de superávit, fazendo as reformas e os cortes que forem necessários para o equilíbrio fiscal.
O ministro salientou que o aumento de arrecadação do governo ocorre porque a economia está em crescimento, com os empresários lucrando mais e, conseqüentemente, pagando mais Imposto de Renda. Segundo ele, não estaria ocorrendo aumento de impostos. "Pelo contrário, nós estamos reduzindo, estamos desonerando tributos no País", ponderou. "É uma arrecadação saudável porque cresce por motivos saudáveis. Não é porque nós estamos aumentando alíquotas.
Desoneração
Mantega disse que o governo prosseguirá, de forma planejada, tomando medidas de desoneração da economia, sem prejudicar a arrecadação do governo nem o equilíbrio das contas públicas. "Porque o País entrou na rota do crescimento sustentado", frisou. "Quando o País cresce 4%, 4,5%, 5%, que é o que vai acontecer no Brasil nos próximos anos, isso significa que a arrecadação, por vias positivas, vai continuar se expandindo.
Ao ser lembrado de que o Brasil continua sendo o país emergente com menor crescimento econômico nos últimos anos, Guido Mantega concordou. "Estamos na lanterninha há uns 20 anos", admitiu. Porém, ele adiantou que o País agora reúne condições para crescer de forma sustentada em torno de 5% nos próximos anos. Ele disse que depois de um junho fraco no setor industrial, a economia se recupera e a previsão para o ano é de um crescimento do PIB em torno de 4%. "E no ano que vem nós poderemos chegar a 5% de crescimento", previu.