A crise no Banco Santos não deve trazer impactos negativos ao sistema financeiro do Brasil, segundo avaliação feita hoje pela diretora da Standard & Poor’s responsável por ratings na América Latina, Jane Eddy. O Santos está sob intervenção do Banco Central desde o início de novembro. Em palestra para um grupo de jornalistas, a executiva descartou um risco sistêmico no mercado brasileiro e lembrou que a supervisão bancária no Brasil é muito boa.
Em fevereiro, após analisar documentos financeiros apresentados pela instituição, a S&P decidiu rebaixar a nota de classificação e colocar o Santos em perspectiva negativa. Isso porque os dados indicavam uma diminuição na qualidade dos ativos apresentados no balanço. Ao informar a decisão ao banco, a diretoria da instituição solicitou que a nota deixasse de ser pública. Como não houve interesse dos investidores em relação a esse rating, a empresa de classificação risco não viu problemas em retirar a nota de circulação no mercado.
"Acho que o nosso rating (sobre o Santos) estava correto. A decisão de rebaixar disse muita coisa e mostrou que a instituição estava com problemas", afirmou Jane. A diretora explicou que o pedido para que uma nota seja retirada de circulação é comum. Nesse caso, a S&P verifica a importância da informação para os investidores antes de decidir a questão. Os executivos da empresa revelaram que duas empresas brasileiras não tiveram seu pedido de retirada da nota aceito pela Standard & Poor’s.
Soberano
A classificadora de risco também não prevê mudanças no rating do Brasil em "um futuro próximo". Durante a palestra, Jane ressaltou três pontos que ainda restringem a melhora na classificação de risco do país: a elevada carga de endividamento geral do governo; a vulnerabilidade externa e as fraquezas econômicas estruturais. O grande avanço do governo está na disciplina fiscal, que vem melhorando o resultado das contas públicas nacionais.
A diretora lembra que o Brasil precisa de capital externo para financiar seu balanço de pagamento e que as exportações ainda representam um percentual baixo em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). As exportações respondem por 19% do PIB, quando em outros países com o mesmo rating do Brasil, como a China, esse porcentual é mais do que o dobro. Esse cenário, segundo ela, tende a mudar, mas essas alterações devem ser lentas. Além disso, Jane destaca que o pior no Brasil não é o tamanho do endividamento brasileiro, mas sim, seu perfil e prazo de vencimento.