Numa atitude que os operadores consideraram "radical", o Banco Central (BC) provocou hoje (20) uma queda de 2,58% na cotação do dólar ao reduzir à metade, de US$ 400 milhões para US$ 200 milhões, a oferta dos chamados contratos de swap cambial. Trata-se de uma operação em que o BC "compra" dólar no mercado futuro, mas acaba interferindo na cotação da moeda no mercado à vista porque é o mercado futuro que baliza a cotação à vista por causa da concentração de liquidez. No início da manhã, com uma queda de 2,58%, o dólar foi cotado a R$ 2,268 e atingiu a mínima de R$ 2, 267, uma queda de 2,62%.
As cotações à vista só não caíram mais no fechamento, segundo operadores, por causa da disparada do preço do petróleo no exterior. No fechamento em Nova York, o petróleo para fevereiro subia 2,27%, para US$ 68,35 o barril. Com isso, o dólar à vista fechou em baixa de 2,15%, cotado a R$ 2,278, após acumular altas de 2,38% nos três dias anteriores.
Como o Banco Central já anunciou que vai repetir na segunda-feira a oferta de US$ 200 milhões em swap, a expectativa entre os operadores é de que o dólar poderá persistir em baixa. Especialmente se o petróleo der uma folga em sua recente escalada.
Os economistas do governo não quiseram comentar as expectativas de operadores de que essa mudança de atitude do BC está indicando a opção por um mix equilibrado entre câmbio e taxas de juros para conter a alta da inflação. "Sobre câmbio não falamos. O mercado é flutuante", disse um técnico. O fato é que a ação surpreendeu o mercado porque, desde novembro, o banco vem atuando "com apetite" no mercado futuro e, desde de outubro, vem comprando moeda no mercado à vista.
Os operadores, no entanto, insistem na avaliação de que a decisão do BC é uma estratégia de política monetária. O objetivo da autoridade seria deixar o dólar se enfraquecer para evitar pressões sobre preços e a inflação e, dessa forma, permitir a continuidade dos cortes da taxa Selic para estimular a atividade econômica neste ano eleitoral.
Embora ainda haja dúvidas sobre se a mudança da linha de ação do BC no câmbio é permanente, a diminuição do volume de swap já acendeu a luz amarela para os exportadores. O diretor do Departamento de Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca, considerou "estranho" o comportamento do banco. Na avaliação do empresário, que atua no ramo exportador, a mudança na estratégia surpreende, já que o dólar continua em processo de desvalorização. "Caso se configure como uma estratégia permanente, a diminuição do volume de swap torna o real alvo de uma apreciação ainda maior", afirmou Giannetti à Agência Estado.
No leilão de swap reverso, o BC vendeu a oferta integral de US$ 201,5 milhões em contratos. Essa operação com volume reduzido aumentou a expectativa nas mesas de câmbio pela operação de compra realizada à tarde. Todos queriam observar a atitude do BC: se iria ou não comprar um volume grande de moeda para compensar a menor oferta de swap reverso. Mas o efeito do leilão de compras sobre a cotação foi pequeno. No leilão, o BC aceitou todas as propostas abaixo ou até o valor de R$ 2,278, muito perto da cotação de mercado naquele momento (de R$ 2 280).
Ao fazer o corte da taxa no mesmo nível de mercado, apenas as instituições que tinham moeda disponível aceitaram vender, até porque o fluxo cambial foi negativo, já que foi forte a presença de importadores comprando dólar. Os operadores estimaram que o BC pode ter comprado cerca de US$ 100 milhões.