Brasília – O Banco Central (BC) adotou hoje (30) mais uma medida para conter o processo de valorização do real frente ao dólar, ao acabar com o limite de US$ 6 milhões para as operações de compra de moeda estrangeira feitas individualmente pelos bancos – a chamada posição comprada em câmbio, no jargão dos técnicos. A medida entra em vigor na segunda-feira.
Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e professor do Ibmec do Rio de Janeiro, Carlos Thadeu de Freitas, a decisão visa a criar uma demanda adicional pela moeda norte-americana no mercado doméstico, criando condições para que as cotações se sustentem. "Vamos ter novos agentes interessados em comprar dólares a partir de segunda-feira", disse ele. O BC, por sua vez, informou por meio da assessoria de imprensa que a decisão dará mais eficiência ao processo de formação de preços nos mercado de câmbio.
A valorização do real vem provocando queixas cada vez maiores de exportadores, já que o dólar mais barato reduz o ganho das vendas no exterior, sobretudo em setores com estrutura de custos mais rígida, como o de calçados. Integrantes do governo, a exemplo do ministro do Desenvolvimento Luiz Fernando Furlan, também vêm mostrando desconforto com a queda do dólar, preocupados com os prejuízos que ela acarreta para as exportações.
Neste ano, o dólar caiu 12,4% em relação ao real. A variação só não foi maior porque nas últimas semanas o BC tem agido mais intensamente para conter a queda, seja comprando dólares no mercado, seja fazendo operações no mercado futuro, chamadas de "swap reverso", em que oferece contratos que pagam taxas de juros em troca de operações feitas em dólar. As compras diretas e dólares do BC neste ano já somam mais de US$ 21 bilhões.
Criado em 2002, o limite tinha como objetivo conter a alta do dólar frente ao real que vinha sendo provocada pelas incertezas do cenário eleitoral. "O cenário agora é outro e o BC está se ajustando ao momento atual", disse o economista da CNC. A valorização do real tem sido provocada pelas volumosas entradas de divisas na economia, trazidas pelas próprias exportações, que vêm crescendo, apesar da difícil situação do câmbio, graças à conjuntura favorável do mercado externo, e por aplicações de investidores estrangeiros interessados em lucrar com as altas taxas de juros vigentes no País.
De acordo com a assessoria de imprensa do BC, a eliminação do limite de US$ 6 milhões retirará das normas do banco um viés anti-posição comprada. O próximo passo a ser dado pelo BC, na opinião de Freitas, é estabelecer algum tipo penalização para a posição vendida em câmbio dos bancos – quando eles assumem compromissos de fornecer divisas a clientes e se desfazem dos estoques de moeda estrangeira. "O BC poderá, por exemplo, exigir dos bancos mais capital para ficarem vendidos em dólar", disse. No último dado divulgado pelo BC, os bancos estavam vendidos em US$ 3,511 bilhões.
Thadeu de Freitas duvida, no entanto, da eficácia de medidas como essa no médio e longo prazos. "Enquanto não houver uma queda mais rápida dos juros, estas medidas não adiantarão muita coisa", disse. Ele lembrou que as taxas de juros dos títulos de 10 anos do tesouro dos Estados Unidos estão hoje muito próximas das dos papéis de 2 anos. "Isto indica que os juros continuarão a subir lá mas numa intensidade muito pequena" explicou. Com isso, os investidores continuarão procurando tirar vantagem do diferencial entre os juros pagos no Brasil e no mercado norte-americano.
A decisão de hoje, na visão do economista da CNC, não deverá levar o BC a suspender as compras de dólares no mercado interno e mesmo parar de fazer intervenções no mercado futuro de câmbio. "As duas coisas continuarão acontecendo", disse. Ele questiona, no entanto, o custo das compras de dólares para recompor as reservas internacionais. "Estamos pagando um custo correspondente a cerca de 1% do PIB com o carregamento das reservas nos níveis atuais", disse. O custo, segundo Freitas, pode ser calculado tendo em vista que, ao comprar dólares, o BC tem que enxugar a entrada de reais na economia provocada pela aquisição de divisas e, para isso, emite títulos nos quais paga atualmente cerca de 18% ao ano de juros.