O Brasil vai sacar US$ 2,998 bilhões de suas reservas internacionais para liquidar dívidas de empréstimos de organismos internacionais com vencimento entre dezembro deste ano e junho de 2005. Do total, US$ 646 milhões serão pagos já no próximo mês ao Clube de Paris.
O anúncio foi feito hoje pelo diretor de Política Econômica do Banco Central, Afonso Bevilaqua, adiantando que o Tesouro Nacional já havia contratado US$ 566 milhões até final de outubro. O que sobra para pagamento no primeiro semestre de 2005 corresponde à totalidade dos vencimentos programados: de US$ 2,352 bilhões.
O diretor do BC garantiu, porém, que não haverá redução das reservas internacionais, porque o Tesouro vai comprar divisas no mercado, aproveitando o momento "extremamente favorável" para o balanço das contas externas. "Temos sido surpreendidos com as constantes melhoras das contas externas, e o cenário está mais favorável do que imaginávamos", afirmou ele.
Ele salientou que pela projeção do BC, no início do ano, 2004 terminaria com reservas brutas internacionais de US$ 47,350 bilhões, e reservas líquidas (sem recursos do Fundo Monetário Internacional) de US$ 21,744 bilhões. Essa estimativa foi corrigida para US$ 48,704 bilhões e US$ 22,446 bilhões, respectivamente.
Segundo Bevilaqua, em função da decisão política de liquidar os vencimentos programados, do principal e dos juros, no próximo ano, a projeção de fechamento das reservas em 2005 será menor. As reservas brutas devem ficar em US$ 40,594 bilhões, e as reservas líquidas em US$ 21,469 bilhões.
O diretor do BC descartou, porém, a interpretação de que o retorno do Tesouro ao mercado para comprar dólares seja uma intervenção para elevar o preço da moeda norte-americana, cujo valor de negociação voltou ao nível de junho de 2002. Ele enfatizou que "não tem nada a ver com intervenção, mas sim com recomposição de reservas".
Bevilaqua acrescentou que a decisão de comprar dólares, aproveitando o bom momento do mercado, é coerente com o objetivo oficial de acumulação de reservas, a médio prazo; e a atuação de compra, quando ocorrer, "em nada interferirá na política de flutuação da taxa de câmbio". Ele acredita que "a sustentabilidade das contas externas continuará melhorando", e o BC trabalha com perspectivas ainda melhores para o balanço de 2005 em transações correntes.