Banalização

O crime está cada vez mais banalizado no Brasil. Não só os crimes comuns definidos no Código Penal, mas também os delitos políticos que fazem com que os poderes da República se deteriorem e passemos a viver um arremedo de democracia. Aqueles são crimes de variada gravidade, das lesões corporais ao homicídio, além de um sem-número de outros. Mesmo que de ação pública, quando se considera que ofendida foi a sociedade, como é o caso do homicídio, ainda assim são de menor gravidade do que os delitos políticos, pois estes atingem de direito e de fato toda a sociedade e sua organização política.

Enoja o trato condescendente que se dá, por exemplo, à prática do caixa 2 em campanhas eleitorais. Na se mana passada, o ex-ministro dos Transportes do governo Lula, Anderson Adauto, do PL, hoje prefeito de Uberaba, admitiu que usou ?caixa 2? em todas as campanhas eleitorais que disputou. Também cometeu o mesmo ilícito em outras duas campanhas das quais participou como coordenador.

Ele depôs na CPMI do Mensalão, confirmando haver recebido R$ 410 mil do ?valerioduto?, através do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Marcos Valério diz que não foram R$ 410 mil e sim R$ l milhão. Um gigantesco equívoco ou alguma cueca forrada de dinheiro no meio do caminho. Anderson Adauto revela que o dinheiro foi usado para pagar dívidas de campanha de 2002, não registradas no Tribunal Superior Eleitoral, o que é obrigatório. Mas ele é condescendente, dizendo que ?em todas as eleições você fica com dívida para trás. Isso é natural. Eu fechei a campanha de 2002 como fechei outras oito campanhas que disputei?. E acrescentou: ?Não quero me eximir da responsabilidade, mas é cinismo quem disser que não é assim (a prática do caixa 2)?.

Cinismo é banalizar esse crime, mesmo que eleitoral ou principalmente porque eleitoral. O caixa 2 significa usar poder econômico nos pleitos, sem o controle da Justiça especializada. No fundo, fazer caixa geralmente com dinheiro ilícito, de bingos, de Cuba, de concorrências públicas fraudulentas, de achaques ou em troca de promessas de favores futuros aos fornecedores do numerário.

Assim se constrói um arremedo de democracia, em que os resultados das urnas não expressam a vontade livre dos cidadãos, mas a força do dinheiro sujo que comprou votos, apoios ou serviu para enganar os eleitores na hora de fazer a escolha dos candidatos.

A banalização desse crime também gera a ?bananalização? de muitos de nossos políticos. Eles têm de dobrar a espinha, ficam moles como bananas, quando forçados pelos financiadores que abasteceram o caixa 2 que os elegeu.

Isso explica, em parte substancial, a razão por que a Transparência Internacional, ao levantar o Índice de Percepção da Corrupção 2005, divulgado em Londres para o mundo, mostrou que o Brasil teve um aumento da corrupção, principalmente nos primeiros anos do governo Lula.

Nesse índice, a nota do nosso País, nos últimos três anos, caiu de 3,9 para 3,7, numa escala de 0 a 10. Em matéria de corrupção, já figurávamos numa posição vergonhosa no concerto das nações. Agora, estamos em posição ainda pior e a atual crise tem revelado que construímos governos, nos seus diversos níveis, através de financiamentos ilícitos. A banalização dessa prática só promete um país cada vez mais corrupto.

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