Não importa se a periodicidade da entrega de dinheiro não contabilizado a parlamentares da base aliada foi mensal ou semanal, mas o aumentativo ?mensalão? veio para ficar no ambiente político, assim com a craca formada no casco de antigos barcos ancorados há muito tempo.
O criador do neologismo, o ex-deputado Roberto Jefferson, independente da avaliação pessoal do eleitor, terá seu lugar assegurado na história recente por ter sido o estopim da maior crise institucional enfrentada pelo País nos últimos anos.
E, nas últimas horas, apareceu o balanço dos trabalhos desenvolvidos pela CPMI dos Correios, onde a purulenta chaga veio a furo, com visíveis e profundas raízes no governo anterior, sem se preocupar com que freqüência o dinheiro chegava às mãos dos interessados, pois o pormenor passou a ser irrelevante, não só para comprovar o pagamento do rico pedágio, mas esclarecer em definitivo que grande parte dos recursos veio de empresas estatais.
Não importa de quantos argumentos o governo disponha para abafar os efeitos ruinosos do relatório sobre sua enxovalhada feição ética e moral – jogada à sarjeta -, a opinião pública não se deixará embair pela cantilena de sempre, diante da solidez dos indícios serenamente enumerados pelo deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da dita comissão.
Os pagamentos foram efetuados em ocasiões em que o Congresso se aprestava a votar matérias que o governo considerava estratégicas, bem como nos períodos de intensa troca de legendas, com a coincidência da maior procura recair sobre PTB, PP e PL, não por acaso, componentes ativos da aliança de sustentação do governo Lula.
Parte do dinheiro aportado às contas das agências do publicitário Marcos Valério de Souza (SMPB e DNA), segundo constatou a CPMI, saiu dos cofres da Visanet, empresa na qual o Banco do Brasil tem participação financeira.
Mediante contratos de prestação de serviços de propaganda e/ou patrocínio de eventos culturais e esportivos, a empresa repassava milhões de reais às contas do publicitário mineiro, reforçando a tese da concepção e perfeito funcionamento do indigitado valerioduto, até o estrilo de Roberto Jefferson.
O relatório final da CPMI dos Correios somente será apresentado aos membros do Congresso em março do ano que vem. A sociedade deverá estar vigilante e botar a boca no trombone ante a mínima tentativa de, pela enésima vez, varrer-se o lixo para debaixo do tapete.