Balança, mas não cai

Neste mundo globalizado, o Brasil vem experimentando reações de mercado às quais ainda não está acostumado. Até há bem pouco tempo, tínhamos uma economia em que o Estado era partícipe. Como sócio, regulador, regulamentador e até ditador. A lei da oferta e da procura era distorcida por intervenções, que chegavam aos tabelamentos e congelamentos. Assim, não estamos ainda acostumados às regras de mercado. E muito menos aos seus desregramentos. No mercado de capitais existe uma ditado que pode ser utilizado para o mercado financeiro. Diz ele que uma ação pode subir, a não ser que caia ou fique como está. O mesmo pode-se dizer do dólar ou outras moedas conversíveis e dos ativos financeiros em geral. Ficamos revoltados com a elevação do chamado risco Brasil, apontada a incógnita de como será o futuro governo do País como uma das principais causas. E outras mais influindo. O dólar chegou às suas cotações mais altas.

O que influi nessas oscilações de preços são fatos e boatos. Mais ainda a ignorância e as desconfianças.

Fatos foram a adoção, pelo sistema financeiro, por ordem do Banco Central, do sistema de avaliação dos papéis de fundos por seu valor de mercado, dia a dia, e não mais por estimativas; a votação da prorrogação da CPMF no Congresso e a intervenção no Previ, o maior fundo de pensões do País. Boatos são muitos e surgem todos os dias. Vão desde informações mentirosas ou distorcidas sobre a situação, em termos de liquidez e solidez econômica, até supostas mudanças nas regras do jogo no mercado financeiro.

A ignorância influi com violência no mercado. Se a gente ignora o valor real de uma mercadoria, poderá aceitá-la por um preço fictício e absurdo. É conhecida a história das tulipas da Holanda. A valiosa flor, em determinada época era praticamente substituta da moeda nos Países Baixos. Valia uma fortuna e servia de meio de pagamentos.

Até que um dia, numa feira de flores, um burro aproximou-se de um lindo buquê de tulipas e, tranqüilamente, começou a comê-las. Engoliu milhões. De repente, os holandeses descobriram, por esse fato insólito, que mesmo tendo bom valor de mercado, as tulipas são flores perecíveis e seu valor real deveria estar muito abaixo do que lhe era atribuído.

No nosso caso atual, a ignorância de analistas e investidores estrangeiros sobre o Brasil eleva o índice de risco que nos atribuem. E a ignorância sobre quem será o nosso futuro presidente e, mais ainda, a respeito do que o eleito fará no governo, aumentam a desconfiança. Isto acontece também aqui dentro. No mercado interno, investidores fogem de suas posições, guardam embaixo do colchão as poupanças que eram destinadas a aplicações, para ver o que acontece. E a maioria, inclusive empresas, fundos, bancos e grandes investidores particulares, foge para ativos que consideram seguros. Aí entra o dólar. E todo mundo sai comprando dólares. Como a regra de ouro é a lei da oferta e da procura, se aumenta a demanda e continua igual ou mesmo diminui a oferta da moeda estrangeira, esta sobe. Assim acontece com o dólar.

Daí porque é importante que cada candidato explicite com clareza quais os seus projetos de governo, o que fará nas áreas econômica e financeira; como tratará a dívida externa e a interna; que política fiscal adotará etc.. Isto não evitará a mudança de humor do mercado, mas reduzirá as oscilações. Por enquanto, a gente balança, mas não cai.

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