Com o impulso da balança comercial, o Brasil obteve, em julho, um superávit recorde de US$ 2,59 bilhões na conta de transações correntes do País com o exterior.
Essa conta registra o resultado das exportações e importações, assim como receitas e despesas com serviços (viagens internacionais, fretes e seguros), pagamentos de juros e remessa de lucro e dividendos. Foi o maior saldo positivo alcançado em um único mês desde 1947, quando o Banco Central (BC) começou a apurar esse indicador econômico, considerado um dos mais importantes para análise da economia de um País. O superávit foi 43,44% maior do que o registrado em julho de 2004.
Se forem também consideradas as despesas de capital nas transações do Brasil com o exterior, o balanço fechou julho com um saldo negativo de US$ 5 bilhões. A razão desse resultado foi o pagamento antecipado de US$ 4,97 bilhões que o governo fez ao Fundo Monetário Internacional (FMI). No ano, entretanto, o balanço de pagamentos registra superávit de US$ 4,62 bilhões.
Apesar das previsões pessimistas de que a valorização crescente do real ante o dólar iria afetar o desempenho das contas externas brasileiras, os números divulgados, nesta quinta-feira, pelo BC mostraram que não houve deterioração da trajetória de resultados positivos que teve início em 2003.
No acumulado dos sete primeiros meses desse ano, o superávit em transações correntes soma US$ 7,87 bilhões, saldo também recorde para o período. O superávit acumulado no ano já é 26,62% superior ao saldo obtido no mesmo período do ano passado.
O bom desempenho das contas externas esse ano vem sendo sustentado pelas exportações, que foram suficientes para compensar os gastos maiores com juros, remessas de lucro ao exterior. Também foi suficiente para enfrentar o aumento verificado na conta de serviços, que inclui itens como viagens internacionais, aluguel de equipamentos e royalties e licenças.
Além disso, as importações estão em volume aquém do inicialmente esperado, explicou o chefe do Departamento Econômico (Depec) do BC, Altamir Lopes. "O superávit reflete basicamente o recorde de US$ 5 bilhões da balança comercial", disse Altamir.
Com os números favoráveis do comércio exterior, o BC vai rever mais uma vez, em setembro próximo, a sua projeção de superávit de US$ 4 bilhões de transações correntes para o 2005. Em 12 meses até julho, o superávit acumulado é de R$ 13,39 bilhões. "Esse é um sinal de que vamos rever a projeção", disse. Para agosto, a estimativa do BC é que o superávit de transações correntes será de US$ 1,4 bilhão.
Segundo os dados divulgados hoje (18), as remessas ao exterior de lucros e dividendos por multinacionais, que vinham elevadas nos últimos meses caíram em julho e somaram US$ 681 milhões. No ano, as remessas já somaram US$ 6,79 bilhões, ante US$ 4,08 bilhões no mesmo período de 2004. Para o BC, a saída de recursos reflete os bons resultados obtidos no ano passado pelas empresas estrangeiras instaladas no País que aproveitaram o dólar mais barato para remeter parte dos lucros às suas matrizes.
"Depois do movimento de antecipação das remessas, estamos observando agora uma acomodação", disse Altamir. Essa tendência, informou ele, também é observada em agosto. Até hoje, o envio de lucros e dividendos ao exterior estava acumulado em US$ 520 milhões As despesas com viagens internacionais continuam elevadas, porque o brasileiro está aproveitando o dólar mais barato para fazer turismo no exterior.
Em julho, os gastos com viagem foram de US$ 188 milhões e, no ano, já somam US$ 408 milhões. De janeiro a julho do ano passado totalizaram US$ 345 milhões. Em julho de 2004, essas despesas somaram apenas US$ 25 milhões.