A 2.ª Conferência Mundial de Café, encerrada, nesta segunda-feira, em Salvador (BA), acenou com o consenso em torno da "intervenção zero" no mercado como forma de ordenar a produção.
Apesar disso, representantes da Organização Internacional do Café (OIC) e de governos demonstraram preocupação com a redução expressiva dos estoques nos principais países produtores, justamente no momento em que a estimativa é de um incremento, nos próximos cinco anos, de 10% no consumo mundial, atualmente em 115 milhões de sacas por ano.
O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, admitiu que o País chegará ao próximo ano com o nível mais baixo de estoques de passagem das últimas décadas. O primeiro levantamento divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em março, apontou que os estoques privados do Brasil eram de 12 milhões de sacas, além de 3,5 milhões de sacas de café velho (idade superior a 20 anos) dos estoques governamentais.
O ministro disse que o País pretende manter a participação mínima de 40% da produção mundial e defendeu que sejam criados mecanismos para ordenar o fluxo das safras. O secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Linneu da Costa Lima, rechaçou a utilização do que ele considera instrumentos "antiquados" de ordenamento do mercado, como retenção, cotas ou acordos para restringir a produção.
Um dos caminhos que poderiam ser adotados, de acordo com ele, seriam os contratos de opção, ou alongamento do prazo das Cédulas de Produto Rural (CPR’s), com a participação dos importadores. Esses contratos seriam aplicados em anos de safra alta para garantir estoques para períodos de baixos volumes de produção.
"Não temos pretensão de fazer com que os estoques (obtidos por esta política) durem indefinidamente e estes instrumentos serão utilizados com prazo definidos, que poderão chegar a um período de 18 meses", afirmou o ministro.
Costa Lima afirmou que o governo pretende desenvolver um calendário, que será cumprido com muita rigidez, divulgando conjuntamente as estimativas de produção e a avaliação sobre o volume dos estoques privados. Não há consenso entre os governos e a OIC sobre qual seria o nível de sacas adequado para evitar o recrudescimento de uma nova crise de preços, seja de sobreoferta ou de falta do produto. "Estamos vivendo um momento de risco, de falta de café", reiterou o secretário.
O ministro admitiu também que, em virtude da crise de baixos preços vivida pelo setor nos últimos cinco anos, não houve nos principais países produtores dinheiro necessário para investir na renovação do parque cafeeiro. O governo, porém, por meio da Embrapa, irá buscar a melhoria da produtividade para passar das atuais 15 sacas por hectare para uma faixa de 20 sacas. Ele considerou também que a idéia de agregação de valor ao produto, principalmente no caso do solúvel, "é óbvia".
As conclusões da 2.ª Conferência Mundial apontam que a industrialização do café poderia ser feita nos países de origem, já que os produtos industrializados têm preços mais estáveis que as matérias-primas.
O diretor-executivo da OIC, Nestor Osório, disse que apesar da valorização nas cotações nos últimos meses, o mercado futuro segue descolado do mercado físico, por conta das especulações dos investidores. Ele acredita que os fundos de investimento norte-americanos tenham decidido pela migração dos recursos para aplicação em contratos futuros de petróleo, que têm alcançado níveis recorde.
"Os operadores de mercado ainda não avaliaram os níveis críticos de estoques não apenas no Brasil, como também em outros países produtores como a Colômbia, Vietnã, México, Indonésia e Índia", revelou.
Ele avaliou que uma reação do mercado poderá ocorrer entre a primeira e segunda semanas de dezembro, quando a Conab divulgar a última estimativa de produção da safra 2005/2006. "Não há dúvida de que o Brasil é um país determinante, pelo que resta dos estoques mundiais, e a partir do momento em que tivermos clareza sobre o real volume da safra brasileira o mercado poderá apresentar uma certa firmeza", concluiu.
A 2ª Conferência Mundial de Café teve a participação de 1,1 mil inscritos, dos quais 486 estrangeiros de 65 países. Esta semana, até o dia 30 de setembro, delegados da OIC continuarão reunidos na capital baiana para discutir as principais conclusões do evento.