Pior que ter uma campanha eleitoral de baixo nível é ter candidatos de baixo nível. Verdade que o nível rasteiro da campanha em geral ocorre quando os candidatos é que não estão à altura dos cargos que disputam, embora às vezes um ou dois deles, como maçãs podres, putrefazem toda a campanha, empurrando os mais bem intencionados a debates indesejáveis e linguagem inadequada. Exemplo de baixo nível foi, por exemplo, o que aconteceu no recente debate na TV Record, quando o candidato Ciro Gomes disse, gratuitamente, sem nenhuma prova ou apresentação de indícios, que há “corrupção generalizada na Saúde”. Referia-se, por certo, ao Ministério da Saúde, para atingir o seu opositor José Serra, que foi titular daquela pasta.
O atual ministro da Saúde, Barjas Negri, decidiu processar Ciro Gomes.
A Advocacia-Geral da União (AGU) encaminhou pedido à Justiça Federal contra Ciro, para que este comprove a acusação feita de público. Se Ciro Gomes não apresentar as provas exigidas pelo governo, a Advocacia-Geral da União vai processá-lo por crime de calúnia.
“Se ele (Ciro) tinha informações sobre corrupção, deveria ter encaminhado a denúncia ao Ministério Público”, afirmou Negri. “Hoje, não temos informações de desvio de recursos”, acrescentou. Segundo o ministro, todas as suspeitas de irregularidades no ministério são apuradas. Irrepreensível a atitude do ministro da Saúde e irrespondível o seu argumento de que Ciro Gomes, se sabia de corrupção no ministério, deveria ter denunciado ao Ministério Público. Esta seria uma obrigação de qualquer cidadão, quanto mais de um candidato à Presidência da República. Não se duvida que exista corrupção neste ou naquele órgão de governo. Existe aqui e em qualquer lugar do mundo, nuns países mais, noutros menos. A tolerância, a falta de denúncias, a inexistência de inquéritos e processos, a omissão e a conivência são indesculpáveis, tanto mais quando quem não age é um homem público. E, sabendo da corrupção, aguarda um debate público de campanha para denunciar sem provar. Ou caluniar.
O que parece mais provável é que Ciro nada tinha a denunciar e, ao falar em corrupção generalizada, apenas estava rebaixando o nível da campanha, talvez ao nível que lhe é mais cômodo, esquecendo-se de que o que estava dizendo pode repercutir não só no Brasil, mas também no Exterior, ajudando a macular o bom nome do nosso País. Aliás, anteriormente Ciro Gomes já fora denunciado e condenado por assacar infâmias contra o então ministro Henrique Santillo, já falecido, fato que ocorreu quando era governador do Ceará. Presidente da República interino, quando FHC foi ao encontro Rio+10, na África do Sul, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio de Mello, condenou o baixo nível dos programas eleitorais e do próprio debate realizado pela Record. Argumenta o magistrado que para o povo interessa que os candidatos discutam os problemas nacionais e suas soluções. A troca de insultos e denúncias pessoais esgota o tempo em que poderiam estar prestando serviços à sociedade brasileira, apresentando seus programas de governo e, assim, facilitando as escolhas no próximo pleito.
Tem razão o ministro Marco Aurélio Mello, mas lamentavelmente partidos políticos e coligações sem compromissos com o futuro do Brasil, interessados apenas em abocanhar o poder, muitas vezes nos impingem candidatos despreparados. E é necessário que estes sejam desmascarados, antes que, incautos, os elejamos.