Bagre ensaboado

O ano nem bem começou, e cá estamos nós mais uma vez lidando com essa tal de política. O ó do ?borogodó? foi assistir a entrevista do nosso mandatário, o ?companheiro?, que, como sempre, pega o bonde atrasado dos acontecimentos, já que esta entrevista ele deveria ter dado a uns seis meses atrás, apesar de achar que não foi melhor do que a da França, talvez um pouco melhor, mas não menos confusa.

Os traidores continuaram sem nomes, mesmo afirmando que os envolvidos foram punidos, sem provas, mas cabe lembrar, Genoino renunciou pela pressão partidária, e se não me falha a memória, está recebendo salário de aposentado da Câmara, mas continua ligado ao PT. O Sílvio Pereira, ?Silvinho?, renunciou ao partido, afinal estava provado o caso da Land Rover. Delúbio cavou uma saída estratégica, no melhor estilo peixe morto, porque todo mundo tem medo de que ele, pressionado, abra a boca, e acabe contando tudo realmente que sabe, e pondo em perigo ou na cadeia um montão de gente aparentemente séria, até empresários, e o Zé Dirceu teve uma exemplar degola, mais pela arrogância do que por provas contundentes, mas ainda manda e desmanda no partido, e goza de bom prestígio com o ?camarada companheiro?, pois ele, Lula, declarou que o Zé sobe em seu palanque eleitoral sem constrangimento, e nenhum deles restituiu nada a ninguém, ou muito menos assumiu sua mea culpa.

A afirmação que nada sabia, e a emenda do exemplo ficou pior ainda. Não saber o que ocorre em pequenos setores da administração pública ou naqueles distantes, até vá lá, mas não saber o que acontece nos andares do mesmo prédio, para alguém que chega ao mais alto posto público de representante legal de um país, é um absurdo, além de estar demonstrando falta de controle e, por conseguinte, mau assessoramento, já que um presidente deve estar sempre um passo adiante, pelo menos na informação. Imagine se um país resolvesse invadir o Brasil? Provavelmente, quando se aperceberem, já estaremos falando castelhano e idolatrando Don Diego Maradona. No partido, que justificadamente ajudou a fundar e passar noites na calçada, pior ainda. Será que nunca lhe ocorreu que um partido não é uma empresa, portanto não opera lucro, e se questionar, de onde vinham as somas nababescas de dinheiro?

O auge foi quando declarou ter sido apunhalado pelas costas. Lembrei-me nesta hora do teatral Roberto Jefferson, naquele depoimento onde interpretou o baque do punhal. Traição é traição, e são raros os casos de traídos que aceitam passivamente a traição, ou são considerados cornos mansos ou covardes. Talvez Lula realmente esteja inovando, absolvendo seus traidores e se transformando em santidade, mesmo porque não serão punidos pela lei dos homens e sim pela lei do Vaticano, por heresia, como disse ele, e aí caberia ao papa a punição, e como as coisas lá em Roma são mais demoradas, quem sabe a fogueira da inquisição só chegaria daqui uns cem anos.

Das bobagens dos exemplos comparativos, a malandragem latente e latina, entre sorrisos dissimulados de bom moço, para depois tomar o tom sério nas respostas, o jogo de cena, as respostas evasivas e o estilo Pilatus, distante dos acontecimentos, Lula se mostrou um bagre ensaboado, liso e escorregadio, típico da política e principalmente dos políticos brasileiros, sistemáticos e sistêmicos.

Para mostrar que o caráter de alguns políticos é tão abominável, quanto a falta dele, desde que me conheço por gente, é mais do comum os eleitos represarem recursos, para depois despejarem tudo em ano eleitoral. Pois bem, Lula mostrou que não é diferente, já que estrangulou o país nos três primeiros anos, e agora, despejará muito dinheiro na economia em obras, vide as rodovias que clamavam reparos e nunca tiveram, e num ato, se não duvidoso, decretou estado de emergência, e as obras começam imediatamente, imagine como vai ser no resto.

Por último, dois pontos crucias, Lula é candidatíssimo à reeleição, se não o fosse não estaria preocupado em ser reempossado no cargo ou passar a faixa, estaria sim com outros planos na cabeça, como cuidar dos netos. Quanto ao pedido de desculpas, faço minha mea culpa. Desculpas, Lula, pois acreditei que você seria a melhor opção e traria esperança de um Brasil melhor, sem fome, sem miséria, com emprego, resgatando a dignidade humana perdida, com melhor distribuição de rendas e políticas públicas sérias, mas este erro, posso corrigir em 2006.

Adolfo Rosevics Filho é membro da Academia de Cultura do Paraná e Academia Sul-brasileira de Letras, subseção Paraná.

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