Não são tudo flores, porém, nas hostes peemedebistas. Como no PT, ali existem também os que resistem à mera adesão ou – como virou moda – à mudança provocada pelo tufão da onda lulista. No mesmo jantar que deveria selar a união incondicional, com tapinhas nas costas, sorrisos e promessas de muito trabalho pelo bem dos brasileiros, houve surpresas: ao conquistar o apoio formal do PMDB, Lula ganha de graça também um pequeno coro a engrossar as vozes radicais da casa.
A dar o alarme foi o deputado Geddel Vieira Lima que, pedindo a palavra, anunciou respeito ao presidente Lula e à sua biografia, para concluir: “Sou um combatente. Não adiro”. “E não venham me chamar de viúva de FHC” – emendou depois de explicar que tem em mira o PMDB do futuro, que não pretende abrir mão de um projeto político e eleitoral desde já, ou seja, uma eventual candidatura própria nas ainda distantes eleições de 2006. Conta a crônica brasiliense que, depois de a tudo ouvir, Lula arriscou uma barganha à base da ironia: “Quem sabe podemos trocar os nossos radicais? Eu troco um Babá por um Geddel”. Ao que Geddel reparou serem necessários pelo menos três radicais do PT para a barganha, perdão, a metalinguagem ficar mais elegante.
As ironias do linguajar palaciano demonstram o tom e o apreço com que são tratados os apoios e dissidências dos que detêm mandato para representar o povo brasileiro. Já não se defendem idéias, projetos ou propostas, mas trocam-se pessoas, como se tudo fosse apenas uma questão de número. Acontece isso no PT, está acontecendo no PMDB e perpassa também as falanges do PSDB – até ontem o partido que administrava o espetaculoso balcão de negócios do Planalto.
Dizem (ou querem que assim acreditemos) que tudo é feito em nome do nobre objetivo de fazer passar reformas e dar corpo ao projeto do governo Lula. Mas por detrás dessa reordenação de forças o que menos conta são as idéias defendidas no palanque. É pura luta pelo poder. Geddel resumiu isso ao exclamar: “Não sejamos hipócritas. Ou teremos candidato próprio, ou se levantem todos agora e digam que o partido não terá projeto em 2006, porque estamos todos juntos e nosso destino está irremediavelmente atrelado ao destino do PT, apoiando Vossa Excelência”.
A questão, pois, se resume no que ninguém tem coragem de dizer publicamente. Pelo menos por enquanto: já está sendo pavimentada a estrada por onde mais dia menos dia, inevitavelmente, passará a campanha pela reeleição do presidente Lula. Aliás, nem ele esconde isso, ao repetir amiúde a impressão de que quatro anos é muito pouco tempo para a materialização do paraíso prometido. Se a esperança superou o medo, que mal há em ousar um pouco mais?