Brasília (AE) – O presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), não convenceu os integrantes da base aliada na CPI dos Correios ao garantir hoje (2) que não tem envolvimento com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Em discurso escrito lido na CPI, Azeredo isentou-se de culpa, admitiu a existência de caixa 2 em sua campanha, mas atribuiu a Claúdio Mourão da Silveira, que foi coordenador administrativo-financeiro de sua campanha à reeleição ao governo de Minas Gerais, em 1998, a responsabilidade sobre as finanças eleitorais da época.

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No discurso de 30 minutos, Azeredo disse que Mourão da Silveira o informou na última sexta-feira que, por iniciativa própria, tomou "decisões estratégicas", tais como apoiar candidatos a deputado para fortalecer a campanha ao governo mineiro e solicitar à SMP&B, uma das agências de Marcos Valério, apoio "a vários candidatos a deputado".

Segundo Azeredo, o então coordenador de sua campanha o comunicou que "entendendo que as referidas campanhas fossem fazer as respectivas prestações de conta, não as incluiu na prestação de contas da campanha majoritária". E emendou: "A responsabilidade por esses aportes foi da coordenação de campanha".

Os principais caciques tucanos e do PFL acompanharam a fala de Azeredo hoje na CPI dos Correios. Para reforçar que não tinha qualquer conhecimento das operações feitas pela coordenação financeira de sua campanha, e nenhum envolvimento com caixa 2, Azeredo se comparou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O presidente Lula também tem deixado entender que não sabia de todos os fatos que o cercam e que se relacionam com as denúncias agora trazidas à luz." O senador disse considerar "essencial" que se separe "com clareza" a questão dos financiamentos de campanha eleitoral das investigações sobre a prática da compra do voto de parlamentares, classificada por ele como "maldito mensalão". E, indignado, discursou: "Não aceito que se cometa contra mim e o meu partido a tentativa proposital e calculada de se confundir e misturar acusações sobre gastos de campanha com graves denúncias de corrupção sistêmica".

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Azeredo também enfatizou que "não houve garantias do Governo do Estado, firmadas ou ajuizadas" e que "nunca, jamais, em nenhuma hipótese, admitiria que o meu governo autorizasse um empréstimo dessa natureza", ao mencionar o empréstimo tomado pela DNA, outra agência de Marcos Valério, ao Banco Rural. "Não há aval meu, do meu governo ou do meu partido em qualquer empréstimo de agência", declarou. "Isso seria, no mínimo, uma insanidade ou algo inaceitável que eu não permitiria ocorrer", ressaltou o senador.

Como ocupou espaço na CPI dos Correios na condição de parlamentar, e não de depoente, os demais integrantes da comissão não puderam questionar Azeredo. Ele saiu do plenário poucos minutos depois de ler sua declaração pública, mas deixou dúvidas. "Ninguém pode perguntar nada. Ele terá de voltar outra vez. Tem de ser convocado", defendeu o deputado Jorge Bittar (PT-RJ). "O fato dele dizer que não é o signatário não esclareceu muito", observou o deputado Maurício Rands (PT-PE). A deputada Denise Frossard (PPS-RJ) argumentou que Azeredo admitiu o caixa 2 em sua campanha à reeleição em 1998 e, por isso, o tucano deve ser encaminhado a prestar esclarecimentos junto ao Conselho de Ética. "Isso aqui não é tribunal penal. É tribunal ético", afirmou a deputada. "Crime pequeno e crime grande é a mesma coisa."

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