Aviso aos radicais

Nem assumiu o poder ainda, e já está o Partido dos Trabalhadores em guerra intestina. A demonstração mais evidente disso foi a recente borrasca em torno da nomeação do futuro presidente do Banco Central, o ex-presidente do BankBoston e parlamentar eleito Henrique Meirelles. Aos prantos para o Brasil inteiro ver, a senadora alagoana Heloísa Helena foi obrigada a abrir mão de seus pétreos princípios para não ser expulsa do partido ou coisa pior. Ela era contra a nomeação. Tentou o jogo-de-braço e, naturalmente, perdeu.

Foi um aviso claro aos radicais que não querem ser confundidos com o governo, embora deles pretendam usufruir vantagens e comodidades. A rebeldia da senadora não durou vinte e quatro horas. “Aprendi que você não pode ser oposição e governo ao mesmo tempo”, disse o presidente do partido, José Genoíno, convocado a mostrar eficiência e rapidez na missão de apagar o incêndio já começado. Para ele, que usou argumentos não-convencionais, “a experiência mostra que todo mundo quebrou a cara onde éramos governo e também oposição”.

Para não quebrar a cara, portanto, é que o PT reserva a mais pesada munição contra os rebeldes de seu próprio time. O episódio – o primeiro em que se estabeleceu um tipo de confronto já esperado entre as múltiplas tendências da agremiação – serviu para balizar um tipo de comportamento que naturalmente será seguido até que todo mundo aprenda a difícil lição de ter a “mesma dimensão das coisas”. Aliás, essa astuta observação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva transfere para um patamar mais elevado a necessidade de uso da vergasta contra os que se demonstrarem indóceis ou movidos por convicções pessoais, para dizer o menos. É preciso ter a dimensão exata do momento que se está vivendo.

Acostumado a fazer oposição, o PT sabe muito bem quanto rende tirar proveito das dissidências do adversário. Foi assim que agiu durante largo tempo em que os principais problemas do governo de Fernando Henrique Cardoso não vinham das oposições e, sim, de sua própria base de sustentação, a partir de aliados como Antônio Carlos Magalhães e outros. Agora no poder, as pontas da estrela petista devem indicar a convergência, nunca a idéia da “democrática divergência” com que historicamente embalou o sonho da militância. Sabem os comandantes do novo governo que se prepara para tomar posse que com a casa desarrumada será ainda pior conter as conhecidas manobras de aliados, como o próprio ACM, cuja famosa “lista” de votação no episódio da cassação do mandato do ex-senador Luiz Estevão foi “por acaso” lembrada…

A proibição de votar contra Meirelles, tecnicamente, não inviabilizaria a indicação do novo presidente do BC. Mas faria o estrago, ainda pior, de demonstrar que o partido não está unido o suficiente para a arrancada que precisa dar, já neste primeiro de janeiro, em direção às reformas prometidas por Lula durante sua campanha “paz e amor”. Afinal, é mais ou menos consenso que o primeiro ano será decisivo para o novo governo implementar as mudanças estruturais prometidas e que a sociedade espera. Se patinar nesse período, dificilmente conseguirá depois. É isso que os radicais precisam entender.

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