Uma falha na porta de um avião Learjet da Força Aérea Brasileira (FAB), em pleno vôo entre São Paulo e Brasília, foi o assunto mais comentado na manhã de hoje, enquanto as autoridades aguardavam o início da cerimônia de abertura da Cúpula América do Sul-Países Árabes. Estavam no aparelho o chefe da Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais da Presidência da República, Aldo Rebelo o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira e o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). "Por pouco, não é reaberta a reforma ministerial", afirmou o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, quando soube do incidente, ocorrido ontem (09) à noite.
Rebelo é alvo da mais nova fritura do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A saída dele, desejada há muito pela maior parte dos ministros petistas, é dada como certa nos bastidores. Oliveira tem se mantido a salvo do que parece ser uma nova rodada da reforma. Mas, na etapa anterior, no início deste ano, a permanência dele à frente do Ministério das Comunicações foi seriamente ameaçada.
"Eu nunca tinha visto comunista rezar, mas ontem eu vi o Aldo Rebelo rezando o pai-nosso com as mãos trêmulas", afirmou Oliveira, divertindo um grupo de autoridades da administração federal e jornalistas. "Eu peguei minha imagem do padre Cícero e disse: É agora, meu padrinho!" Segundo relato do ministro das Comunicações, houve um estouro na porta do avião. "Mas foi igual no governo, uma explosão para dentro", afirmou, bem-humorado. Apesar do estrondo, a porta permaneceu fechada e o vôo prosseguiu, normalmente. "Eu sou piloto e fiquei preocupado", confessou. Oliveira afirmou que os aparelhos da FAB são todos antigos. "Quando eu nasci, o avião mais novo já tinha 15 anos", disse. O ministro nasceu em 1952.
O chefe da Secretaria de Comunicação de Governo e Assuntos Institucionais da Presidência da República minimizou o episódio. "O avião deu uns quatro chacoalhões", revelou. Depois, mais relaxado, declarou, que, por pouco, o PT não ganhava a presidência do Senado. Ao que Oliveira emendou: "Quase que o Severino vem com a gente!", referindo-se ao presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE).
O ministro tampouco poupou Calheiros, que também estava no avião. "O Renan falava assim: ‘Bem que a Verônica (mulher dele) não queria que eu viajasse… isso é praga de mulher!’" O grupo havia estado em São Paulo, onde participou de um jantar no Restaurante Fasano, onde foram comemorados os 20 anos da redemocratização da América do Sul. O encontro terminou tarde da noite de ontem (09), mas os ministros precisavam estar hoje cedo em Brasília para o início da Cúpula América do Sul-Países Árabes. Eles aterrissaram por volta de 3 horas sãos e salvos.
"Agora que acabou, todo mundo ficou macho", prosseguiu Oliveira. "Mas, na hora…" O atraso da cerimônia fez com que os ministros ficassem um bom tempo em conversas informais. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, admitiu que só há pouco tempo havia entendido por que a pasta se chama "da Fazenda" e não "das Finanças" ou algo do tipo. "É que eu passo o tempo todo trabalhando para ele", disse, apontando ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. "É incrível, trabalho 20 horas por dia para ele!", insistiu Palocci.
Desde o início do ano, Rodrigues tem pressionado o ministro da Fazenda por verbas para socorrer os agricultores atingidos pela seca, combater a febre aftosa e outras ações do ministério.
O ministro da Agricultura apenas sorriu. "Sabe como é, ministro", respondeu Guia a Palocci. "Nossas pastas têm um problema: falta de liquidez."