Apenas o avanço nos processos de cassação dos deputados na Câmara pode dar um fôlego para as investigações, independentemente da quebra do sigilo de corretoras ou de acareações agendadas pelas comissões parlamentares de inquérito (CPIs), afirmou a cientista política Lúcia Hippólito. "Essa é a única coisa que pode acabar com esse clima de desencanto, de desesperança em relação à suspeita de pizza", afirmou.
Para Lúcia, a perda de segredo das instituições pode revelar boas informações, mas o processo é lento, além de técnico, o que faz com que a população tenha dificuldade de acompanhá-lo.
"Antes, quando as pessoas falavam em pizza, eu tinha um otimismo cauteloso. Agora, frente ao tom de desencanto em relação a punições, estou concordando", disse. "Hoje, essa impressão é fortíssima", resumiu, dizendo que a percepção da opinião pública é fundamental em política.
Esse sentimento, de acordo com ela, pode agravar-se pela proximidade do fim de ano, quando "o clima de festividade, de descanso e de página virada" se espalha pela sociedade.
Até agora, afirmou, há um único punido nessa crise política. Trata-se do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que foi quem denunciou o esquema de corrupção no Congresso e governo.
A cientista política atribuiu o arrefecimento da atual fase a dois fatores principais: a vitória do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP) deu uma capacidade nova à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para manobrar nos bastidores das CPIs; e a disputa eleitoral entre o PT e o PSDB fez com que as CPIs perdessem o foco, a dinâmica das investigações.
"O PSDB perdeu o timming", declarou, sobre acertos entre o partido e o PT para a proteção do ex-governador de Minas Gerais e presidente nacional tucano, senador Eduardo Azeredo, que foi envolvido em irregularidades pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
