A Renault do Brasil reconheceu que está havendo acúmulo de trabalho na fábrica de veículos de passeio, em São José dos Pinhais, e garantiu a contratação de 23 trabalhadores na linha de produção já na próxima semana. Esse foi o resultado da segunda reunião realizada quinta-feira com representantes do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba para discutir compensações aos trabalhadores pelo aumento de produção. O volume passou de 270 automóveis/dia, no final do ano passado, para 311 veículos/dia. No mesmo período, o sindicato alega que foram dispensados 150 funcionários da linha de produção.
Além disso, a montadora está utilizando o banco de horas e horas extras para compensar a redução da jornada de trabalho de 41 para 40 horas semanais, que começou a vigorar no dia primeiro de março, conforme acordado após a greve de abril do ano passado. Na próxima reunião de negociação com a Renault, daqui a quinze dias, os metalúrgicos pretendem discutir alternativas para o banco de horas e a jornada de trabalho. O acordo de banco de horas vigente, que expira em 8 de julho, é contingencial, para recuperar horas perdidas por falta de peças ou problemas na linha de produção.
Só que ao invés de ficarem devendo horas, como estabelecia o acordo, os trabalhadores da unidade de veículos de passeio estão com 17 mil horas positivas acumuladas. “O banco de horas tem se tornado uma ferramenta para economizar com hora extra”, alega o coordenador da comissão de fábrica, Paulo Pissinini. Ele relata que está sendo comum na Renault o trabalhador estender a jornada diária por duas horas durante dois ou três dias na semana, além dos expedientes aos sábados. “Têm funcionários com até 80 horas positivas”, cita Pissinini.
“A montadora estende a jornada semanal para manter a produção enquanto o mercado está absorvendo ou tem necessidade de fazer estoque, mas o trabalhador não tem vantagem financeira com as horas positivas. Quando o mercado retrai, a empresa dispensa o pessoal e as horas positivas acumuladas servem para zerar o banco”, aponta o sindicalista. Segundo ele, se as horas positivas fossem remuneradas como hora extra, o trabalhador teria um acréscimo de, no mínimo, 50% no valor da hora extra.
O incremento no ritmo de produção está impulsionado pelo crescimento nas vendas da Renault no fim do ano passado e início deste ano. Segundo apurou O Estado, a montadora precisa manter um estoque de 14 mil veículos para garantir empréstimos e investimentos externos. Conforme informações extra-oficiais, o estoque da Renault começou o ano com déficit de 4 mil veículos. “É importante para nós que a empresa produza e venda, sem exploração de mão-de-obra”, observa Pissinini.
Segundo ele, outro resultado positivo da reunião foi o cancelamento do trabalho no regime de banco de horas que estava previsto para este sábado (13). Também foi acertado folga na próxima sexta-feira (19), aniversário de São José dos Pinhais. Inicialmente, a empresa queria compensar nessa data a folga do dia 23 de fevereiro, que será reposta no dia 27.