O ministério da Defesa do Iraque cancelou nesta sexta-feira (3) todas as licenças de soldados do exército, aparentemente temendo atos de violência quando for anunciado domingo o veredicto de um dos julgamentos do ex-presidente Saddam Hussein. O ministro Abdul-Qader al-Obeidi tomou a decisão numa reunião com o primeiro-ministro Nouri al-Maliki e altos oficiais militares e de segurança.

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"Todas as folgas serão canceladas e todos aqueles que estão em férias terão de retornar à ativa", disse Obeidi no encontro. A ordem entrou em vigor hoje. Na reunião também foi considerado um toque de recolher domingo em Bagdá, mas uma decisão ainda não foi tomada. As medidas sublinham temores de que o veredicto venha a provocar ainda mais turbulência no Iraque, onde a violência sectária e uma insurgência contra as tropas dos EUA têm provocado um banho de sangue no país.

Inicialmente, o governo do presidente americano, George W. Bush, tinha esperança de que o julgamento de Saddam contribuísse para unir o Iraque, ao expor num tribunal crimes cometidos por seu regime. Mas o julgamento tem aparentemente aumentado as tensões entre a maioria xiita e a minoria sunita, que compunha o grosso da antiga classe dominante. Muitos partidários sunitas de Saddam assim como outros xiitas e curdos, prevêem um terremoto caso o Alto Tribunal Iraquiano o condene e o sentencie à morte por enforcamento, como é amplamente esperado.

Por outro lado, a maioria dos curdos e xiitas, como al-Maliki, têm pedido a pena de morte, e provavelmente ficarão enfurecidos se Saddam escapar da forca. Al-Maliki disse no mês passado esperar que "esse tirano criminoso seja executado", e previu que a execução serviria para quebrar a disposição dos seguidores de Saddam na insurgência. Para complicar a situação, advogados de Saddam acusam o presidente Bush de pressionar pela sentença de morte buscando "ganhos eleitorais".

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Atraso

Originalmente, o anúncio do veredicto estava previsto para 16 de outubro. Poucos dias antes, porém, o tribunal especial que julga Saddam adiou o anúncio para 5 de novembro, dois dias antes das eleições legislativas de meio de mandato nos Estados Unidos. Bush "acredita que a sentença de morte servirá aos interesses de seus candidatos", por reavivar nas mentes dos eleitores americanos os crimes atribuídos a Saddam, acusou esta semana uma advogada de Saddam, a libanesa Bouchra Khalil.

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Os juízes do tribunal em Bagdá devem anunciar no domingo o veredicto e sentença de Saddam e sete co-réus no caso do assassinato de 148 xiitas muçulmanos da cidade nortista iraquiana de Dujail. Os xiitas foram mortos depois de uma fracassada tentativa de assassinato contra Saddam quando ele passava pela cidade em 1982. Os réus proclamam inocência.

Se condenado, Saddam pode ser sentenciado à morte por enforcamento, embora ainda tenha direito a apelação. Um segundo julgamento de Saddam – por suposto genocídio contra curdos – teve início em agosto e outras acusações ainda devem ser apresentadas. Não está claro se esses casos terão continuidade se Saddam for sentenciado à forca domingo.