Até a década de 1940, o Paraná possuía 7,6 milhões de hectares de araucárias nativas, ocupando 38,27% do território estadual. Hoje restam apenas 2,1% das antigas florestas. Para salvar a espécie que é símbolo do Estado, uma das alternativas é agregar valores à própria árvore e aos seus subprodutos, como o pinhão.
Essa é a idéia do projeto Grimpa, da organização não governamental Instituto de Desenvolvimento Sustentável (IDS). O engenheiro florestal e coordenador da entidade, Arnaldo Carlos Müller, conta que o pinheiro-do -paraná entrou em declínio pela exploração intensa nos meados do século XX, e pela necessidade de uso agrícola das terras. O desmatamento da araucária fez com que as árvores estivessem longe umas das outras, dificultando a polinização e, conseqüentemente, o surgimento de novas mudas.
Esse quadro foi a base para a criação de uma lei determinando que a araucária não pode ser cortada em hipótese alguma, somente com autorização governamental. “Essa medida criou uma aversão de muitas pessoas pelo pinheiro, prejudicando a preservação da espécie. O efeito colateral acontece porque o produtor arranca a árvore ainda pequena, para não perder a área para a agricultura”, afirma Müller. “Além disso, estamos vendo as últimas árvores vivas. Mesmo proibindo o corte, elas um dia vão morrer. Somente poderão ser vistas em museu.”
Assim, o projeto quer mudar algumas regras, a fim de retomar a preservação da araucária. Em primeiro lugar, Müller defende a compensação financeira para quem tem pinheiro na propriedade. “Tendo algum tipo de compensação (nos impostos, por exemplo), o produtor vai estar mais simpático em continuar abrigando a árvore, mesmo perdendo a área para o cultivo”, explica o engenheiro.
Em um segundo momento, Müller acredita que a pessoa que planta a araucária pode explorá-la: “Hoje em dia, o Instituto Ambiental do Paraná só libera a exploração se provar que a árvore é plantada”, conta. “Facilitando esse processo, com a comprovação de um técnico, o laudo vai para o cartório. Daqui a vinte anos, o proprietário vai poder fazer o que quiser, inclusive o corte.”
O coordenador do IDS ainda defende a valorização do pinhão para a preservação do pinheiro-do-paraná: “Precisamos agregar valores ao pinhão, selecionando os diferentes tipos, melhorando a apresentação desse produto. Um produtor que consegue uma quantia de cinco toneladas de pinhão, vendendo o quilo a R$ 4, vai conseguir pelo menos R$ 4 mil por mês. Ele vai tratar a araucária como fonte de renda e nem vai querer cortá-la, incentivando o plantio”, acredita. “Futuramente, cooperativas poderão ser formadas para pensar o comércio do pinhão, estruturando o setor e incentivando exportações.”
O engenheiro florestal conta que a agregação de valores pode acontecer também com partes da própria árvore, como a casca e a folha. “Fervendo os dois, é possível fabricar um óleo que se aplica na limpeza do gado contra carrapatos e piolhos. Pode-se também aproveitar a resina para fazer soluções para dores musculares. Além disso, há o nó de pinho, que tem capacidade para produzir produtos nobres e é simplesmente queimado”, afirma Müller.
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Mais informações sobre o projeto podem ser encontradas no site www.grimpa.org.br.