São três filas de carros, na saída dos boxes. Estou a bordo de um Peugeot 407 SW, motor 6 cilindros, 24 válvulas, 211 cv de potência, dividindo espaço com outros sonhos de consumo e máquinas do porte de Ferrari, Porche, Mustang, Ford GT 40 e Corvette. Ao meu lado, um ex-piloto travestido de instrutor. Antes de sair, ele avisa: "Você veio aqui pra se divertir, conhecer Interlagos, certo? Então faça o que eu mandar e não vai se arrepender".
Não pensei duas vezes. Box aberto, lá vamos nós. Logo na saída, a primeira ordem: "Segura, segura, deixa o mané da frente se afastar". Obedeço. Quando o caminho à frente fica livre, ele emenda: "Agora pisa fundo". Segundos depois já estava rasgando a reta oposta do Autódromo José Carlos Pace, ou, para os íntimos, Interlagos.
No final desta reta, meu único erro. Pisei no freio antes de o instrutor mandar. Levei bronca e decidi não mais desobedecê-lo. "Pô, adiantou o ponto de frenagem e entrou errado na curva", disse ele, quando eu já contornava a descida do lago. Nova reta e, na hora de contornar a seqüência do laranjinha e pinheirinho, fiz exatamente o que ele mandou e não me arrependi. Pé no freio metros antes de entrar na curva, virar o volante na hora certa e atolar o pé no acelerador. O carro gruda. Receita básica pra muita emoção, um traçado bem feito e o pneu cantando, como melodia a embalar um sonho.
Mas eu precisava me manter acordado e atento, pois já estava contornando o bico de pato, uma curva fechada pra direita, e tomando fôlego pra chegar firme na junção. Antes, uma nova ordem. "Capricha no traçado dessa próxima curva à esquerda e depois pisa fundo. Só tira o pé do acelerador lá na frente, pra fazer o ‘S’ do Senna."
É a subida dos boxes, que oferece três curvas leves à esquerda, mas nada que faça você pensar em aliviar o pé direito. Marchas subindo uma a uma e, no final da reta, quando o instrutor mandou frear, dei uma conferida no velocímetro, que batia nos 180 km/h. Lembrei do professor que, no curso de pilotagem, havia dito que o limite a ser respeitado seria de 120 km/h. Já era tarde. Que venha a multa!
Pensei já estar realizado, mas contornar o ‘S’ do Senna, que desafia o piloto na sua primeira perna à esquerda, foi o ápice. O carro ameaça desgarrar, mas um toque mais fundo no acelerador e a segunda perna à direita mantém o bólido sob controle, pronto pra curva do sol e mais uma viagem pela reta oposta.
Andar em Interlagos foi uma emoção tremenda. Ainda pilotei um Renault Megáne 2.0 com câmbio de 6 marchas, o novo Ford Fusion, e embarquei como passageiro num Renault Copa Clio. Mas precisaria de muitas outras linhas pra contar, e a bandeira quadriculada do editor já cintilou sobre o meu pára-brisa.
Rafael Tavares é jornalista e piloto por um dia
Experience 100%
Participei, como consumidor, assinante e apaixonado por carros, do Quatro Rodas Experience, evento organizado com primor pela mais conceituada revista de automóveis do País. Organização, diga-se, impecável. Comprei meu ingresso com antecedência, pela internet. Escolhi os carros que queria pilotar e, quando cheguei no Autódromo, em São Paulo, no último sábado, lá estava minha credencial, personalizada, com nome, carros e horários pra entrar na pista.
Fui até lá, junto com meu irmão, Thiago, pra pilotar em Interlagos, é claro, mas me surpreendi com as outras atrações. Como não amolecer em saudosismo ao ver Wilson Fittipaldi entrar na pista a bordo do Coppersucar FD-01? Inteiramente restaurado, mostrando o mesmo vigor de quando foi lançado, em 1974.
Antigos carros de corrida também tiveram vez. Desfilaram suas linhas esbeltas algumas carreteiras, a Brasília que já teve Ingo Hoffman ao volante, um belo Jaguar conversível e até um DKW. Nos boxes, as montadoras expuseram seus principais lançamentos.
Longe do asfalto, duas pistas off-road para os aficionados por terra. Uma de velocidade, pra quem quisesse sentir a emoção de uma volta rápida a bordo de um Peugeot 206 de rally. A outra, pra colocar à prova a técnica dos que gostam de atoleiro. Pra chegar até lá, um atalho de tirolesa.
Pra quem perdeu, um alento. A Quatro Rodas já se mexe pra garantir o próximo "Experience". Que seja logo, por favor! (RT)
