Enfim, Ricciardella conseguiu chegar a Londrina e como não poderia ser diferente, em último lugar.
Segundo ele, não dava para enxergar o motor da berlineta: era um óleo só, espirrado para todos os cantos.
Foi direto ao mecânico de manutenção da equipe e reclamou, alegando que tinham deixado a bomba de óleo com muita pressão. Feita a nova regulagem, tudo voltou ao normal.
Ricciardella largou de volta e meteu a botina na berlineta, já sem o problema da queda de pressão do óleo do motor, conseguindo recuperar algumas posições. No entanto, na altura de outra serra, a do Cadeado, começou a chover.
Não teve dúvida: acionou o limpador de para-brisa mas, para seu espanto, este não funcionava! À medida que a chuva aumentava, ele diminuía a velocidade nas curvas, para evitar uma derrapada.
De repente, viu que passava por ele, a toda velocidade, um carro que era dirigido justamente por seu cunhado Luiz Augusto, apelidado de Repolho. Duas curvas adiante, o Repolho derrapou e rolou numa ribanceira.
Praticamente presenciando o acidente e em se tratando de seu cunhado, Ricciardella parou seu carro no acostamento e foi socorrê-lo. Repolho estava com o nariz quebrado e o rosto cheio de sangue, entre outras escoriações.
Vendo que não havia nada de mais grave, Ricciardella colocou Repolho no seu carro e disse-lhe “vamos embora porque eu ainda estou na corrida”. Repolho ajeitou-se como pode mas, poucos quilometros adiante gritou para Ricciardella: “pare o carro e volte porque eu deixei minha carteira com documentos e dinheiro dentro do meu carro”.
Ricciardella não sabia o que fazer: pertencia a uma equipe, tinha que terminar a corrida mas, tinha que atender o pedido do cunhado também. Além disso, tratava-se de estrada de pista única e não podia trafegar em sentido contrário ao dos carros que estavam vindo atrás. Resultado foi que parou novamente no acostamento, mandou o Repolho descer e “se virar” numa carona.
Luiz Gastão Ricciardella conseguiu terminar a corrida, apesar de todos esses percalços, classificando-se em 11.º lugar. O vencedor foi Ettore Onesti Beppe, com outra berlineta Willys da equipe Transparaná, número 101.
Angelo Cunha, de Laranjeiras do Sul/PR, com sua carreteira Ford n.º 74, que vinha em primeiro lugar, saiu da estrada a 40 quilometros de Curitiba, chegando aqui ainda em segundo lugar, ficando em terceiro lugar Carlos Monteiro, com o Willys Interlagos nº 102, também da Transparaná. Beppe percorreu os 802 quilometros em 5 horas, 34 minutos e 17 segundos, à média de 152,355 quilômetros horários.
Ricciardella mora hoje numa chácara no município de Mandirituba, a 35 quilometros de Curitiba, curtindo a tranqüilidade da zona rural, longe do barulho dos motores de carros de corrida e da falta de óleo lubrificante, mas, lembrando com saudade das competições daquela época e rindo quando relata “causos” como esse.
NB: essa reportagem nunca foi publicada antes. É fruto de entrevista feita com Luiz Gastão Ricciardella durante evento realizado há alguns anos no Restaurante Number One, de propriedade de outro paranaense famoso, ex-piloto de carros de corrida, Carlos Eduardo Andrade, mais conhecido como Dado Andrade.
Lamentavelmente, há cerca de 1 ano tivemos notícia sobre o falecimento do entrevistado, jovem ainda e cujo nome vem enriquecer mais uma página do livro que conta a história do automobilismo de competição paranaense e brasileiro.