No que diz respeito às corridas de carreteiras no Brasil, nas décadas de 1940/50, o motor mais “quente”, o mais utilizado pelos pilotos para equipar seus veículos e o que se apresentava mais disponível na praça, era o que vinha de fábrica nos automóveis Ford ou Mercury V8, com maior ou menor cavalaria, cerca de 100 ou de 130 HP respectivamente, o qual, devidamente preparado com equipamento fabricado nos Estados Unidos poderia chegar aos 150 ou 200 HP.
Mas, como dizia o piloto curitibano Paulo Buso, não era nada fácil conseguir isso e pior ainda um motor mais forte, bem como a “perfumaria” necessária para torna-lo competitivo.
Em consequência, os mecânicos da época eram obrigados a realizarem verdadeiros milagres mecânicos para que, utilizando os parcos recursos que tinham à mão, fazer com que o motor preparado rendesse o que era esperado pelos pilotos dos carros.
Uns poucos pilotos tinham condições de ir aos Estados Unidos buscar os equipamentos necessários ou importa-los. A maioria, recorria aos “hermanos” argentinos para conseguirem as peças, caras com certeza.
Os pilotos em condições de obter os melhores motores e equipamentos importados para “envenena-los”, certamente tinham maior chance de vitória nas corridas.
É o caso, por exemplo, do destacado piloto gaúcho de Passo Fundo – Orlando Menegaz – que, já em 1957 equipou sua carreteira Chevrolet 1938 com motor V8 e câmbio do esportivo Chevrolet Corvette, carro este que havia sido lançado pela General Motors norte-americana em 1953 com motor de 6 cilindros em linha e que a partir de 1955 começou a ser equipado com motor de 8 cilindros em V, de alto desempenho.
Esse motor, novo, superava 200HP e foi vendido a Menegaz por outro piloto de carreteira gaúcho – Argemiro Adolfo Pretto – dono de concessionária Chevrolet na cidade de Encantado/RS e que havia importado três unidades pela então CACEX do Banco do Brasil.
A instalação e testes da nova mecânica e acerto do diferencial da carreteira consumiram um ano de trabalho, mas, a partir de 1958 Menegaz começou a colher bons resultados, vencendo as seguintes provas: Centenário de Passo Fundo – 02-02-1958, Festa da Uva/RS – 09-03-1958, Circuito Automobilístico de Melo/Uruguai – 30-03-1958, VI Mil Milhas Brasileiras/SP – 25-26-11-1961, II 500 Quilometros de Porto Alegre/RS – 23-09-1962.
Isto, além de obter o terceiro lugar no Circuito Internacional de Automobilismo do Uruguai – 23-03-1958 e terceiro e quarto lugares em duas provas do Circuito Cavalhada/Vila Nova/RS.
Em 1957, Menegaz, correndo em parceria na carreteira equipada com motor V8 Corvette também de outro piloto gaúcho – Aristides Bertuol, venceu mais uma Mil Milhas Brasileiras.
Bertuol buscou esse motor nos Estados Unidos, transportando-o ao Brasil num avião da Varig Internacional comandado pelo gaúcho Gastão Werhang, que por sua vez pilotava a carreteira do conterrâneo João Galvani, equipada com motor Corvette também.
São fatos que mostram ao leitor a dificuldade em se conseguir bons equipamentos automobilísticos de competição naqueles tempos… Aliás, o antigomobilista passofundense Nelson M. Rocha afirma que Orlando Menegaz foi o primeiro piloto de carreteira a usar cinto de segurança no banco, “emprestado” de um avião Douglas DC-3 da Varig em 1961! Na foto, a carreteira de Menegaz na vitória deste nos 500 Quilometros de Porto Alegre em 1962.