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Jamais o estilista Giorgetto Giugiaro imaginou ao desenhar o Fiat Uno, em 1980, que o mesmo se tornaria num sucesso de vendas tão grande no Brasil. Mesmo completando 20 anos de produção no Brasil, ele ainda foi o quinto carro mais vendido em nosso País.

Representado pela versão única Mille Fire, o Uno consagrou-se como um vencedor e há anos é o modelo mais "barato" comercializado no Brasil. O sucesso desse Fiat é oferecer, a um custo imbatível, um conjunto de qualidades que o tornam plenamente viável como carro popular dos tempos modernos. Um sucessor para o que o Fusca representou durante décadas, mas com vantagens.

A reestilização efetuada no ano passado não o deixou bonito, mas somente simpático. A Fiat poderia ter feito algo bem melhor que aquela frente no estilo Doblò e as lanternas traseiras baixas de aspecto modesto, que mesmo assim não afetou seu sucesso. Mas em compensação ganhou faróis com lentes de policarbonato, instrumentos mais atuais como os do Palio, opção de pára-choques pintados e a oferta de uma boa direção assistida, instalada em concessionária.

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O interior do Fire Mille é de uma simplicidade franciscana, com chapa aparente nas portas e colunas, plásticos baratos, nenhuma alça de teto. Faltam locais para objetos e o acelerador não tem uma simples borracha para cobrir o metal. Mas quem compra o carro mais barato do mercado sabe perfeitamente que não vai encontrar luxo. Por causa do descuido com material fonoabsorvente, os ruídos de rodagem dos pneus são ouvidos claramente. E o motor exposto do limpador do vidro traseiro permite uma aula de mecânica quando a tampa é aberta.

Porém, alguns pormenores incomodam, deixando a sensação de que uns poucos reais seriam bem aplicados em sua melhoria. Falta hodômetro parcial. A luz interna não é acionada pelas portas. Os cintos não têm ajuste de altura (importante para a segurança no caso de ocupantes de baixa estatura), os traseiros deveriam ser retráteis. E falta simples "borrachinha" para evitar desconforto ao se manusear a vareta de sustentação do capô.

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O que mais nos chamou a atenção no Mille Fire é que ele, mesmo sendo pequeno por fora, tem boa solução de espaço interno, com excelente visibilidade, algo que não se encontra muito nos carros modernos do segmento popular.

OLHO CLÍNICO

As pessoas perguntam por que um carro com projeto de 20 anos continua vendendo tanto. Primeiramente, ele é um veículo fácil de ser revendido. Você anuncia hoje e costuma fechar o negócio no mesmo dia. O Mille tem bom valor de revenda, é muito econômico, é leve e em razão disso ágil, apesar da pouca potência, e tem bom espaço para as pernas de todos os ocupantes da cabine, além de ter evoluído em todos os sentidos, inclusive com trocas de marcha mais suaves, revestimento dos bancos melhorados, painel menos espartano e por aí vai.

Bem mais alto que os concorrentes e com formas retilíneas que não invadem a área dos passageiros, o Mille Fire oferece acomodações melhores que as de carros mais recentes. Seu compartimento de bagagem é bem razoável (270 litros) e está livre do estepe, que vem junto ao motor, posição única e inigualável em termos de acesso com o veículo carregado. Ele oferece boa posição de dirigir, banco macio, mas confortável em longos percursos, pedais bem localizados e um ótimo volante.

Com motor de concepção atual, o Fire consegue ser ágil e obter ótimos índices de consumo. Dos freios à suspensão, nada existe no Mille que traga dificuldades ao motorista. Em seu prático painel a iluminação alaranjada dos instrumentos dá um banho de bom gosto e funcionalidade.

Econômico, ele faz nada menos que 14 km/litro na cidade e 20 km/litro na estrada. Segundo a montadora, chega a 150 km/hora apenas, uma boa velocidade para um carro urbano e que não foi feito para correr. Atinge os 100 km/hora em pouco mais de 15 segundos. Acelerando na estrada, numa ultrapassagem, dá pra notar que ele se dá bem em razão de sua curva de torque, praticamente plana entre 2.500 e 4.250 giros o torque máximo é de 8,5 kgfm). A 2 mil rotações por minuto, tem-se 94% do torque máximo do carro, tanto que a impressão ao dirigi-lo é de que o motor é bem mais potente.

O Mille Fire 1.0 testado tinha equipamentos que poucos compram no Mille. Ar-condicionado e direção hidráulica, além de vidros dianteiros com acionamento elétrico. Há itens mais simples e de série como vidros verdes, Fiat Code, hodômetro digital (não tem parcial) e volante espumado. O novo Mille Fire é encontrado, "peladão" por R$ 18.3200,00, podendo chegar a R$ 22.606,16 ou mais com opcionais. Há, ainda, opção de cinco cores lisas e oito cores metálicas. E também ser comprado pela internet.

FICHA TÉCNICA

MOTOR – transversal, 4 cilindros em linha; bloco de ferro fundido, cabeçote de alumínio; comando no cabeçote, 2 válvulas por cilindro. Diâmetro e curso: 70 x 64,9 mm. Cilindrada: 999,1 cm3. Taxa de compressão: 9,5:1. Potência máxima: 55 cv a 5.500 rpm. Torque máximo: 8,5 m.kgf a 2.500 rpm. Injeção multiponto semi-seqüencial.

CÂMBIO – manual, 5 marchas; tração dianteira. Relações: 1ª) 4,273; 2ª) 2,238; 3ª) 1,444; 4ª) 1,029; 5ª) 0,872; diferencial, 4,067. Velocidade por 1.000 rpm (em km/h): 1ª) 6; 2ª) 12; 3º) 19; 4ª) 26; 5ª) 31.

FREIOS – dianteiros a disco ventilado, 240 mm ¢; traseiros a tambor, 185 mm ¢.

DIREÇÃO – de pinhão e cremalheira; assistência hidráulica;

SUSPENSÃO – dianteira, independente, McPherson, mola helicoidal, estabilizador; traseira, independente, McPherson, feixe de molas semi-elíticas transversal.

RODAS – 4,5 x 13 pol; pneus, 145/80 R 13 T.

DIMENSÕES – comprimento, 3,692 m; largura, 1,548 m; altura, 1,445 m; entreeixos, 2,361 m; bitola dianteira, 1,337 m; bitola traseira, 1,357 m; coeficiente aerodinâmico (Cx), 0,35; capacidade do tanque, 50 l; porta-malas, 270 l; peso, 825 kg.

DESEMPENHO – velocidade máxima, 151 km/h; acelera de 0 a 100 km/h, 15,2 s.

CONSUMO – na cidade, 14,3 km/l; na estrada, 20 km/l.