FNM acabou com o reinado do Ford

No final da década de 1940 e início da década de 1950, a maioria das estradas brasileiras era precária, aliás, como ocorre até hoje. Quem transitou pela vetusta Estrada da Graciosa no verão que está acabando, por exemplo, verificou que a vegetação encobria as laterais da via, dificultando a visão do motorista.

Quer dizer, nem dinheiro, por parte do órgão público responsável pela manutenção dessa estrada, para comprar uma foice e executar o desbaste dessa vegetação tem, mas, dinheiro para que órgãos públicos “contratem” parentes e amigos de autoridades, aí sim tem.

Voltando ao assunto, nos arredores de Curitiba, naquela época, a única estrada asfaltada era a que ligava a capital paranaense à cidade de São José dos Pinhais e, no país, a única nesta condição era a estrada Rio de Janeiro/São Paulo, coisa do “outro mundo” então.

Assim, para “enfrentar” essas “picadas” e transportar mercadorias, eram necessários caminhões robustos e foi aí então que os norte-americanos empurraram ao Brasil toda sorte de marca desses veículos, destacando-se entre elas a série “F” da Ford, ou seja os F-5, F-6, F-7, F-8 e depois o F-900 Big Job.

O motorista de caminhão brasileiro que se prezava tinha que ter um F-8, potente, de visual bonito, cognominado então de “Rei da Estrada” e que, quando carregado com até 15.000 quilos, seu motor V8 consumia l litro de gasolina por quilometro rodado.

No Paraná, para transportar toras brutas, madeira beneficiada, café e outros produtos carga-pesada, o F-8 não tinha concorrentes à altura.

E assim foi esse reinado rodoviário por muitos anos de gasolina barata, até que começaram a surgir por aqui os primeiros “Arfas”, como diziam muitos motoristas, ou seja, os caminhões da marca italiana Alfa Romeo, com motor de 6 cilindros, movido à díesel, combustível bem mais barato. Estes eram mais lentos que os Ford, mas, suportavam maior carga e eram mais econômicos. Os primeiros Alfas eram importados e as suas cabinas traziam detalhes diferentes daqu ados posteriormente no Brasil com a sigla FNM.

Na sequência, a cabina dos Alfas veio dotada de cama para o motorista, enquanto que, para o seu diferencial, havia uma relação mais longa à disposição, visando velocidade maior.

O som repetitivo “tum-tum-tum-tum – chi-chi-chi-chi – tum-tum-tum-tum produzido à distância pelo motor já com boa quilometragem e em marcha lenta de um Alfa estacionado num pátio de posto de gasolina pelo Brasil afora, durante a madrugada, era tido como sinfonia para dormir por antigos motoristas.

Foi o fim do reinado dos Ford F-8 nas estradas. Hoje, os poucos F-8 restantes servem para coleção, enquanto que muitos Alfa ainda prestam serviço pesado em portos marítimos, por exemplo.

Nos flagrantes, dois Ford F-8, um deles que pertencia a Luiz Bertoncello e um Alfa/FNM, carregados de tábuas e seus orgulhosos motoristas (acervo de João O. Evert).

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