Fernando, o Kaiser

Entre os antigomobilistas curitibanos, quando uma pessoa cita o nome próprio Fernando, é comum outra logo perguntar: qual Fernando, o Kaiser ou o Torino?

Explica-se: nesse meio existem dois Fernandos, o Manoel Fernando Branco, que possui um automóvel marca Kaiser e o Fernando Félix, que possui um Ford Torino.

Então, eles são conhecidos por Fernando Kaiser e Fernando Torino. É sobre o primeiro, ligadíssimo em fabricação, restauração de móveis antigos e colecionador de antiguidades, que vamos falar.

Há 26 anos Fernando adquiriu, em Curitiba, do senhor Buby, que possuía oficina mecânica na rua Dr. Keller, esse automóvel marca Kaiser, modelo Henry J, fabricado nos Estados Unidos em 1951.

Trata-se de veículo que apresenta algumas características diferentes dos carros das demais marcas norte-americanas da época, a começar pelo seu tamanho menor.

Quando em trânsito nas vias, é motivo de curiosidade dos passantes e chama a atenção pelo seu para-lama traseiro, estilo “rabo-de-peixe”. Possui motor de 6 cilindros em linha, 80HP de potência e refrigerado a água, câmbio de três marchas à frente com trambulador na coluna de direção, sistema elétrico de 6 volts, limpador de para-brisa a vácuo, freio a tambor nas quatro rodas e para-brisa bi-partido.

Agora, como itens próprios, apresenta uma solução interessante para que os passageiros do banco traseiro possam ver o que se passa à frente do veículo sem ter de esticar o pescoço a toda hora, como é comum acontecer nos carros norte-americanos: há um desnível entre os bancos dianteiro e traseiro, ou seja, o de trás é mais alto que o da frente, a fim de facilitar a visão de quem neste está.

Por outro lado, Fernando revela que esse foi o primeiro carro norte-americano a contar com chassi modelo box, fechado. Por outro lado, por ser um modelo tido como popular, com pouca sofisticação, não tem porta-luvas e sim bolsas laterais, à semelhança do jipe Willys.

Em Curitiba, na década de 1950, o carro era vendido pelas Lojas Prosdócimo, na rua Cruz Machado esquina da praça Tiradentes. E foi ali que o senhor José Seiler Giglio, que morava na rua Ébano Pereira, adquiriu o exemplar em foco, pelo preço de 92.500,00 cruzeiros, quantia que pagou em 10 prestações mensais, no dia 5 de agosto de 1952.

Somente que, esse senhor obteve a sua Carteira Nacional de Habilitação somente no dia 6 deste mesmo mês. Fernando possui também, entre outras coisas, a nota fiscal da venda, a guia de importação, as notas promissórias da compra e o manual de manutenção mecânica, muito interessante, tipo “folder” sanfonado e com muitas ilustrações coloridas a fim de melhor orientar o proprietário sobre como cuidar do carro.

Na década de 1960 o carro foi vendido ao senhor Buby, que com ele ficou até 1983, quando, a fim de aplicar o dinheiro na compra de um terreno em cemitério, vendeu-o a Fernando.

“Usei-o por cerca de 3 e depois levei mais 5 anos para restaurar as peças gastas, trocando a sua cor original azul por laranja-marrom, levado pela sugestão de meu pai que dizia que a esposa de um prefeito de Curitiba tinha um carro desses nesta cor. Fora a cor, todo o mais, fiação, estofamento, é original. É uma relíquia que roda beleza, podendo ir a 140km por hora” – afirma Fernando.

Sabe-se que o médico Henry J. Kaiser (daí o nome do modelo Henry J) dono da fábrica Kaiser/Fraser, fabricou esse carro de 1950 a 1953, tentando baratea-lo e torna-lo acessível a todo os bolsos, mas, o consumidor norte-americano dele não gostou e, foi o fim.

Na foto, Fernando e o seu raro Kaiser Henry J.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo