Na década de 1950, no auge do reinado das carreteiras no Brasil (carros de passeio preparados por mecânicos que faziam “milagres” com o equipamento que tinham à mão) a corrida mais disputada no Paraná era sem dúvida entre as cidades de Curitiba e Ponta Grossa, ida e volta, num percurso de mais de 200 quilometros de estrada compactada com saibro, cheia de buracos, barrancos, barrocas, desníveis, pedras, curvas, pontilhões de madeira, serra, pontes altíssimas (Rio dos Papagaios) e muito mais.
A prova, promovida pelo jornal Paraná Esportivo, era um verdadeiro desafio para carros e pilotos, para ver quem chegava inteiro. Era poeira e pedra jogadas para todo lado ou então barro na cara de quem vinha atrás. Famílias inteiras, que sabiam da corrida via radio a pilha, preparavam o pão com banha e se postavam à beira da estrada, em todo o percurso, para ver os carros irem e voltarem. Já no início, na ponte de madeira sobre o rio Barigui, numa descida em curva, havia espaço para um carro só. O piloto tinha que ser muito bom para não errar os dois pranchões, senão…
Na avenida do Batel, pavimentada com paralelepípedos e com trilhos de bonde, em Curitiba, multidão ficava nas calçadas observando o topo da rua Bispo D. José para ver quando apontava o primeiro carro, no retorno. De repente, surgiam os primeiros “heróis” (piloto e co-piloto), carreteira com faróis acesos, cheia de barro, às vezes para-brisa quebrado pelas pedras, voando sobre os paralelepípedos num estrondo do motor V8 rumo à rua Comendador Araújo, a chegada. Era muita emoção. E um desses “heróis”, ídolo popular, era Euclides Bastos, o famoso “Pereréca”, “chauffer” de carro de praça em Curitiba, pioneiro que fez a história das carreteiras no Paraná, nascido em Guajuvira/PR em 1907 e apaixonado por corrida de carros. O seu primeiro carro de praça, com ponto na praça Tiradentes, foi um Ford T 1922 e a sua Carteira de Habilitação tinha o número 202. Brincalhão, na época de Carnaval saía de casa na Sexta e só retornava na Quarta-feira de Cinzas. Daí, o seu compadre Jejé comentou que ele parecia uma pereréca, pois, pulava quatro dias sem parar, advindo então o apelido pelo qual ficou popularmente conhecido.
Na foto de hoje (acêrvo de Edson Vercesi), raro flagrante de uma prova Curitiba/Ponta Grossa, aparece a carreteira de Pereréca – Ford 1940, motor V8, dois carburadores, número 9, derrapando logo após transpor uma ponte em curva, seguida de perto pelo terror das carreteiras da época, o carro esportivo Jaguar XK 120, modelo 1951, original de fábrica, conversível, 6 cilindros em linha, 180 cavalos, duplo comando de válvulas, dois carburadores, quatro marchas, velocidade de 184 quilometros/hora, pilotado pelo curitibano Silvio Messino. Ganhar do Jaguar era questão de honra para um piloto de carreteira!