Ela sobreviveu na linha de produção da Volkswagen no Brasil por 56 anos, comemorados agora, no dia 2 de setembro. Resistiu ao lançamento de uma série de modelos e nunca saiu da lista dos utilitários mais vendidos do país. Mas a Kombi sucumbiu à obrigatoriedade de ser equipada com airbag duplo e freios ABS a partir de janeiro de 2014. O modelo não tem estrutura para receber esses itens de segurança.
O fechamento da linha de produção é motivo de lamentos e de tristeza para aqueles que ganham a vida a bordo do utilitário da Volkswagen. Sérgio José Eidt, proprietário da Prisma Locadora de Veículos, abriu a empresa há nove anos e conta que nesse período já comprou cerca de 80 unidades do modelo. Ele faz locações para clientes em todo o país e diz que a Kombi é muito procurada porque é versátil: transporta cargas leves e tem capacidade para um bom número de ocupantes. Leva nove pessoas.
Do total de veículos que a Prisma tem para locação, 40% são Kombis, conta Eidt. Ele afirma que vai comprar mais algumas unidades até o fim do ano e depois espera que a indústria ofereça um substituto com a mesma relação custo/benefício.
Além de ser uma opção interessante para as empresas, a Kombi também faz sucesso entre os pequenos empreendedores, que precisam de veículos capazes de transportar pequenas cargas. Nas feiras livres, por exemplo, o que não faltam são Kombis que levam barracas e produtos ou mesmo que servem de ponto de venda de produtos.
Edilene Siniski trabalha na feira há dez anos. No início ela vendia ovos e frios e comprou a sua primeira Kombi, que era ano 1976. Hoje, Edilene conta com a ajuda do marido, Júlio Cezar Cardoso, e eles transformaram a nova Kombi, ano 1994, para servir como ponto de venda de carnes assadas. Aos sábados eles estão na feira do bairro Seminário e aos domingos, no Bacacheri. Para ela, o utilitário da Volkswagen é uma excelente opção. “Quem tem Kombi está feliz”, garante.
Sustento
Alexo Cvenvrinch concorda. Feirante há 20 anos, ele sempre usou a Kombi para o trabalho. E não pretende largar o modelo cedo, apesar do fim da produção. Para ele, não há outra opção de veículo no mercado com custo semelhante tanto de compra como de manutenção e com a mesma funcionalidade. Casado e pai de um filho, Cvenvrinch tem a Kombi como parceira no sustento da família.
Ele, a esposa e um funcionário fazem oito feiras por semana, em Curitiba e em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana. Atualmente, Cvenvrinch usa uma Kombi ano 1998, comprada recentemente. Nela ele transporta a barraca e as bolachas que vende na feira.
Edição especial
Para marcar o encerramento da produção da Kombi, a Volkswagen lançou a série especial Last Edition. Serão apenas 600 unidades com preço sugerido de R$ 85 mil. Os veículos não serão distribuídos para as concessionárias. Os interessados em comprar devem manifestar sua intenção de compra em uma das lojas da rede. Ainda este mês também haverá um link no site da Volkswagen para fazer o pedido.
Essa edição especial traz itens exclusivos, como pintura tipo “saia e blusa”, acabamento interno de luxo e elementos de design que remetem às inúmeras versões do veículo fabricadas no país desde 1957. As unidades serão numeradas e terão placa de identificação. A Kombi Last Edition virá na cor azul, com teto, colunas e para-choques brancos. As rodas e as calotas também são pintadas de branco. Adesivos nas laterais identificam a série especial.
O modelo é equipado com o motor EA111 1.4 Total Flex, que desenvolve potência de 78 cv com gasolina e de 80 cv com etanol, sempre a 4.800 rpm. O torque máximo é de 12,5 kgfm com gasolina e de 12,7 kgfm com etanol, a 3.500 rpm. O câmbio é manual de 4 marc,has. As rodas são de 14 polegadas, com pneus 185 R14C.
Frota
O fim da produção da Kombi não significa o desaparecimento do modelo do mercado, claro. O utilitário da Volkswagen será produzido até o fim de 2013 e esses veículos continuarão circulando por muitos anos. Mas as empresas que usam Kombis em suas frotas, e locam essas unidades, correm o risco de não ter mais o modelo à disposição num prazo médio de três anos. Isso porque a “vida útil” de um veículo para locação, na melhor das hipóteses, é de 36 meses.
Flávio Nabhan, proprietário da Carrier Rent a Car e presidente do Sindicato das Empresas Locadoras de Veículos do Estado do Paraná (Sindiloc), explica que um tempo bom de uso da Kombi é de 18 a 24 meses. Pode chegar a 36 se não rodar muito. Nabhan afirma que existe uma preocupação das empresas que usam o modelo porque não há outro no mercado que faça o mesmo serviço por um custo semelhante. Segundo ele, veículos que poderiam substituir a Kombi são, em média, 40% mais caros.