Diz a letra de uma antiga e conhecida música de festa junina: “Casamento? Isto é lá com Santo Antonio.”
Agora, carroças, isto é lá com Armando Túlio, esse exímio artesão do bairro de Santa Felicidade/Curitiba, que não só cria mas recupera obras de arte, desde um simples relógio cuco, berços, oratórios, gaiolas, móveis, até carroças.
E tudo por “amor ao ofício”. Nessa questão Túlio está entre os melhores profissionais de que se tem conhecimento. Além de bastante versátil naquilo que faz, ele não só recupera, mas, vai fundo na pesquisa e no estudo de cada ítem. No tocante às carroças antigas, modelo, origem, uso e tudo o mais, Túlio é mestre.
Ele começou a voltar sua atenção à esse tipo de veículo de tração animal por volta de 1992, quando encontrou e adquiriu de Natal Perussi, na localidade de Marmeleiro, próximo a Santa Felicidade, uma charrete que havia pertencido a Camilo Perussi, avô de Natal.
De lá para cá Túlio já encontrou, adquiriu e restaurou, 41 carroças antigas, algumas delas em precário estado de conservação, de tal forma que foram aproveitadas praticamente apenas as ferragens dos veículos e o resto teve que ser refeito, sempre de acordo com o modelo original.
“Dentre as carroças que já restaurei – destaca Túlio – considero de maior valor histórico uma modelo Faitom de quatro rodas e toldo de proteção dos passageiros, que pertenceu a Bortolo Casagrande. Em Santa Felicidade , Bortolo usava essa carroça para entregar, nas casas de fregueses, encomendas de carne bovina, linguiça, salame, feitas ao açougue Dal´Santo”.
Quanto à Camilo Perussi, conta a história que ele veio com a citada charrete de sua chácara até o centro de Santa Felicidade.
Do bairro, ele foi – a pé – até a cidade de Santos/SP, onde pegou um navio que levou-o de volta à Itália, país de origem. Sabem para que?
Para pagar dívida, ou seja, devolver o dinheiro que ele havia emprestado a fim de vir ao Brasil e aqui viver! Já pensaram se essa honestidade exemplar fosse praticada ainda nos dias de hoje? Pois é…
No retorno ao Brasil Bortolo ainda trouxe duas irmãs consigo. Sinal que ele acreditava mo futuro desta terra. Túlio já recuperou carroças tipo troler, aranha, caleça, carroções de cargas pesadas, côche e outros.
Fala com entusiasmo sobre um carroção que transportava erva-mate de Curitiba ao porto de Paranaguá/PR, puxado por tropa de 12 cavalos e que de lá trouxe os sinos de 1.600 quilos da igreja matriz do bairro, subindo a Serra do Mar, pela Graciosa.
Acaba de recuperar carroça polonesa que encontrou na Colônia São Pedro, diferente da carroça modelo italiano, com freio nas quatro rodas e toldo de bambu removível, que era usada em casamentos.
“Quem desconhece o passado – diz ele – é como folha que não sabe a qual árvore pertence”. Nas fotos de hoje, Armando Túlio e esposa Maria Lourdes na charrete e com amigos na carroça com toldo.