Aumento dos gastos públicos no Brasil preocupa o FMI

O Fundo Monetário Internacional (FMI) manifestou preocupação com o aumento dos gastos públicos do Brasil e disse que eles precisam ser mais direcionados à área social e de infra-estrutura. Embora tenha elogiado os avanços econômicos do País nos últimos anos, o vice-diretor do Departamento de Pesquisa do Fundo, Charles Collyns, disse que o crescimento do PIB brasileiro tem sido decepcionante e que será necessária ?paciência? até que seja acelerado.

No estudo "Perspectiva Econômica Mundial" divulgado hoje, o FMI alertou que vários países da América Latina – sem especificá-los – estão aumentando seus gastos públicos e que precisam se preparar para um ambiente menos favorável nos mercados externos. A Agência Estado, durante a apresentação à imprensa do estudo em Cingapura, perguntou aos economistas do Fundo se eles incluíam o Brasil nessa avaliação. Collyns ressaltou que o País precisa implementar uma ?extensa? agenda de reformas e o que Fundo tem enfatizado várias delas. ?O gasto público é um dos pontos, pois é verdade que ele tem crescido rapidamente no Brasil ao longo dos últimos dois anos?, disse.

Ele salientou que a arrecadação de impostos também aumentou de maneira rápida, ?abrindo algum espaço? para esses gastos. ?Mas consideramos importante é que o gasto público seja mais focalizado, pois há um sistema muito extenso de restrições na maneira que eles são alocados e é importante se tentar encontrar algumas maneiras para concentrá-los mais em programas sociais específicos para as pessoas mais pobres?, disse. ?O governo Lula tem conseguido sucesso nessa área, mas há mais a ser feito, e também direcionar mais recursos públicos para a infra-estrutura, além de se avançar nas possibilidades das parcerias público-privadas.

Collyns salientou que ?o Brasil tem feito muito nos últimos anos em termos macroeconômicos para crescer de maneira sustentada, seja em termos de implementação de uma estrutura de responsabilidade fiscal que está resultando em superávits primários altos e sustentáveis e também no estabelecimento de uma formatação bastante crível para o controle da inflação?. Segundo ele, ?os frutos dessas conquistas já estão sendo vistos em termos da resistência que o Brasil? exibiu ao enfrentar algumas condições adversas que afetaram os mercados internacionais em maio e junho deste ano.

?Mas concordo que a resposta em termos de crescimento tem sido de alguma maneira desapontadora e que alguma paciência será necessária?, disse. Collyns observou que o Banco Central ?encontra-se neste momento bem posicionado, reduzindo progressivamente a taxa de juros ao longo do último ano?. Segundo ele, ?com as expectativas inflacionárias baixando para a parte mais baixa da banda da meta inflacionária, há espaço para novas reduções dos juros, e com isso com o passar do tempo o crescimento aumentará no País?.

O economista do Fundo ressaltou que o País precisa também adotar reformas no sistema financeiro, observando que os spreads sobre juros no Brasil ainda são muito elevados. ?Em parte, isso é um resíduo da instabilidade macroeconômica do passado e será reduzido no futuro, mas ainda há uma série de fatores, como os elevados depósitos compulsórios não remunerados e o crédito direto extensivo?, disse. ?Algum progresso tem sido feito na área de sistema de informações sobre crédito e na Lei de Falências, mas uma maior consolidação dessas reformas ainda é necessária.

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