As montadoras de veículos não confirmam, mas o preço dos carros deve aumentar nos próximos meses. A explicação para isso pode estar bem no início da cadeia de produção, na composição de algumas peças. De acordo com a Associação Brasileira de Produtos de Coque, o preço do coque verde de petróleo aumentou 158% este ano.

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Como o coque verde de petróleo é a matéria-prima de produção do coque utilizado na fundição de ferro, o mercado automotivo pode ser afetado, segundo os produtores, porque o ferro fundido é utilizado em peças de todos os tipos de veículos, como por exemplo o freio, o bloco do motor, a carcaça de câmbio, enfim, vários itens que ficam expostos ao calor.

O aumento de 158% deverá representar um acréscimo de cerca de 64% no preço final do coque de fundição, segundo a Associação Brasileira de Produtores de Coque. Já o secretário executivo da Associação Brasileira de Fundição, Roberto João de Deus, diz que provavelmente as fundições terão que vender o produto de 10% a 15% mais caros para as montadoras, que são as principais compradoras do ferro fundido.

Sem falar, explicou ele, que um dos tipos de ferro mais utilizados na fundição (o chamado ferro guza) também registrou aumento de preço de 96% este ano. ?Creio que tudo isso está acontecendo por causa do aquecimento da economia, que fez os preços aumentarem no mercado internacional. Aumenta lá fora, aumenta aqui também?, diz ele.

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O aumento pode afetar outros setores também, pois o ferro fundido é usado nos objetos mais simples do dia-a-dia, como tampas de bueiros, tubos de esgoto, enfim, em vários segmentos da indústria. ?Não entendo este aumento absurdo, pois sabemos que o coque verde é um subproduto para a Petrobras?, analisou.

O presidente da Associação de Produtores de Coque, Márcio Menezes, acredita que o acréscimo de 158% pode ter sido causado pela elevação de valor do barril de petróleo e do carvão mineral. Ele se mostra preocupado com a situação. ?Estamos tentando negociar com a Petrobras ou importar o produto, mas não sei se vamos conseguir.

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Para importar teremos que nos adequar a uma nova realidade, e não sei se faremos isso com a mesma velocidade. O aumento pode inviabilizar as coquerias e poderá causar um apagão nas fundições?, diz Menezes. Roberto de Deus também acha que importar seria uma alternativa, porém difícil de adaptar de uma hora para outra.

A Petrobras BR Distribuidora foi procurada pela reportagem de O Estado para saber quais os motivos do aumento no coque verde, mas a assessoria de imprensa informou que a empresa ?não comenta preços?. A reportagem também entrou em contato com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos automotores, mas a assessoria do local informou que a Associação não comenta este tipo de assunto.

A Associação Brasileira de Produtores de Coque é formada por quatro empresas que respondem por 90% da produção nacional de coque de fundição. Todas elas se localizam em Santa Catarina. Juntas, elas oferecem 250 empregos diretos. Já as fundições se localizam não só na região Sul do país, como também em Minas Gerais e São Paulo.