É fato que a floresta de araucária está na lista das espécies ameaçadas de extinção, o que não se sabia ainda é que a maior parte da população dos estados em que ela predomina, Paraná e Santa Catarina, têm consciência de que é necessário preservar esse bioma. Prova disso são os resultados obtidos na pesquisa realizada pela The Nature Conservancy (TNC), que na primeira quinzena deste mês entrevistou cerca de 400 pessoas das duas regiões.
De acordo com Fernando Veiga, Coordenador de Serviços Ambientais da TNC, a pesquisa mostrou que aproximadamente 98% da população dos dois estados estão conscientes que salvar a floresta de araucária da extinção é importante. Ele diz ainda que os resultados podem ajudar o Governo Federal na criação das reservas para proteção da espécie nos estados. "O principal objetivo da pesquisa era saber a opinião dos cidadãos paranaenses e catarinenses a respeito da floresta de araucária. Aproveitando que seria exatamente esse o momento das discussões sobre a formação dos parques, usamos os resultados da pesquisa para ajudar a reforçar o processo de criação das unidades", explica Veiga.
Para Wigold Schaffer, coordenador do Núcleo dos Biomas Mata Atlântica e Pampa do Ministério do Meio Ambiente, a pesquisa da TNC mostra que a sociedade quer tirar a floresta de araucária da lista de espécies ameaçadas de extinção. "Essa pesquisa é muito importante porque demonstra que a sociedade pensa de forma semelhante às lideranças governamentais. A criação das unidades de conservação é a principal prioridade e esses dados motivam a proposta", diz.
O Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) vão implantar dois parques nacionais, duas reservas biológicas, dois refúgios de vida silvestre, uma estação ecológica e uma área de proteção ambiental, atingindo parte de 21 municípios paranaenses e catarinenses. "As reservas são o primeiro passo para se colocar sob proteção efetiva alguns dos principais fragmentos ameaçados de extinção como a floresta de araucária, mas esse não é o único passo. Será necessário criar mecanismos de implantação efetiva dessas unidades e estamos estudando a possibilidade de envolver os governos estaduais nessa tarefa", explica Schaffer.
Estudos preliminares estão sendo feitos para que se encontre a melhor forma de implantar as unidades. Somente após a aprovação destas pesquisas pelo Presidente da República é que terá inicio a criação das reservas. "Estamos em um processo de pesquisas de campo. Depois serão feitos os ajustes necessários e então o projeto será submetido ao MMA e ao Ibama. Somente após a aprovação destes órgãos a pesquisa será submetida ao Presidente da República, a quem em última análise cabe aprovar e assinar o decreto que dá início a construção das reservas", diz Schaffer.
Propriedades particulares devem ficar fora dos limites das unidades de conservação, mas serão desapropriadas as terras que estão dentro de parques nacionais, estações ecológicas e reservas biológicas. Segundo Schaffer, em Santa Catarina não haverá nenhuma desapropriação e no Paraná serão no máximo dez propriedades. "Somente em casos excepcionais, nos quais a moradia compromete o futuro dos parques ou das estações ecológicas, foram incluídas pequenas áreas. Mas são percentuais mínimos e o temor de que várias famílias serão desapropriadas não deve existir porque não há moradores dentro dessas áreas, com algumas exceções em Ponta Grossa (PR)", afirma.
Segundo o coordenador da TNC essas áreas devem ser reservas de biodiversidade. "Essas reservas vão funcionar como grandes áreas núcleo, conectadas umas nas outras, para que sejam conservadas, manejadas e funcionem de fato como área de conservação", diz Veiga.
Com a criação das reservas, as regiões serão pólos de turismo ecológico, o que favorece a economia dos estados. "Em princípio a criação das reservas trará potencial de geração de receita, porque os municípios vão ser automaticamente inseridos na lista dos que recebem ICMS Ecológico, e assim passam a ter uma receita extra que pode ser revertida em geração de emprego e renda. Além disso, vai impulsionar o turismo nessas regiões a partir da implantação das unidades. Em médio prazo, a geração de receita através do ecoturismo é algo significativo, e parques nacionais são por si só atração turística em todo o mundo", ressalta Schaffer.
