A arte performática tomou conta do Guairinha na noite de ontem (31). Foi entre dança, canto e dramaturgia que os curitibanos tiveram a oportunidade de presenciar a estreia da peça norte-americana Surfacing. Diferente de muitas atrações do Festival de Curitiba, Surfacing é atual, trabalha com recursos multimídia e abusa de projeções.

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A trama é inteligente e contada por um único personagem, judeu e anarquista pacífico, que mostra a sua história e como ele emerge em um mundo que hoje parece estar de cabeça para baixo.

Esvaziamento. Essa é a palavra que melhor descreve Surfacing. Cheia de reflexões políticas e sociais, a peça faz o público pensar. São tantas ideias discutidas e tantas referências postas simultaneamente, que o espectador quebra o processo de construção de seu entendimento e acaba esvaziando a mente.

Exemplo disso é quando um vídeo é projetado enquanto outra história complementar é contada pelo personagem. Como todas as falas são em inglês, o texto é traduzido em duas legendas localizadas na parte superior do palco. Mais um item que disputa a atenção do público presente.

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A inovação proposta pelo roteirista, cantor e ator da montagem, Holcombe Waller, foi um dos maiores motivos pelo qual a plateia estava praticamente lotada: ele fala com o público, apresenta a música e interage através de dois projetores diferentes – um deles, móvel, com imagens feitas na hora e outro, fixo, com conteúdos prontos que fizeram o público pensar.

Resultado

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Entre vários estudantes de artes cênicas, estava a médica Solange Santos, uma senhora de 68 anos que costuma frequentar o Festival há tempos. Solange afirma que seu maior interesse é em ver as apresentações estrangeiras, já que são mais difíceis de retornarem à cidade.

Antes de o espetáculo começar, a responsável pelo Guairinha durante os 10 dias de Festival, Lygia Itibere, comenta a diversidade e competência do ator e reforça o tema da apresentação: “é um lamento, além de ser uma reflexão sobre cultura e a sociedade”.

Animado, Holcombe Waller tenta explicar seu desempenho aclamado por todos que o prestigiaram em sua estreia. “A peça é muito louca e abstrata”, conta o estadunidense. “O personagem é anarquista e sozinho, porque a cultura o afetou”.

O artista também conta que a história não é completamente ficcional como dizem. “É um retrospecto. Algumas experiências são reais, assim como as ideias que exponho durante os 55 minutos de apresentação”, ressalta.

Ao final da peça, os comentários positivos foram inúmeros, como o da arquiteta Sabrina Stafin, que disse que “[a peça] é diferente do que o curitibano está acostumado. É contemporânea e confusa ao mesmo tempo. E a presença de palco do ator é incrível”.

Assim como Sabrina, a atriz Ana Ferreira gostou do “show”, como ela mesma disse. “São várias referências. Cada um constrói uma linha dramatúrgica diferente com as referências que captou”, comenta. “Achei bem interessante, bem potente, fiquei feliz por ter vindo”, finaliza a atriz.

Holcombe Waller, que passeou – e adorou – Curitiba, se apresenta mais uma vez hoje (01), no Guairinha, às 21h. O preço é R$ 70,00 a inteira e R$ 35,00 a meia entrada. “Espero que os curitibanos se interessem e venham amanhã”, convida Waller, que pretende voltar à cidade.