Atores do pacto social

O pacto social proposto pelo novo governo é muito importante como alicerce de uma nova etapa do desenvolvimento brasileiro. Caso se concretize amplo acordo entre todos os segmentos da sociedade e do poder público, o País terá dado passo significativo para solucionar seus problemas e avançar como nação emergente.

Por outro lado, não se deve esquecer, o termo “pacto social” esteve muito desgastado em passado recente, quando adjetivou pacotes econômicos milagreiros e planos fracassados de alguns governos. É necessário que todos entendamos não ser tão simples a edificação de um pacto social. Trata-se de entendimento amplo, que deve enfrentar todos os antagonismos normalmente existentes na vida de uma nação, que se agravam e se tornam mais visíveis e agudos nos momentos de dificuldades, como os que o Brasil tem vivido.

A edificação de um pacto social é complexa, como se observou na Espanha: a redemocratização desse país, ocorrida em 1975, e suas primeiras eleições livres, em 1977, depois de 41 anos sem exercício do voto direto, foram um dos mais importantes fatos de toda a sua história. Contudo, essa conquista somente apresentou resultados práticos para a economia e o desenvolvimento espanhol a partir do Pacto de Moncloa, em 1978, quando partidos políticos e os distintos setores da sociedade estabeleceram as bases de um amplo acordo, no qual a prioridade era a nação.

No Brasil contemporâneo, são boas as condições para a realização de um pacto. Não emergimos, como os espanhóis, de uma guerra civil cruenta. Atingimos, no plano político, a maturidade democrática, mas agora temos de transformar essa conquista em ferramenta eficaz de prosperidade material e desenvolvimento social. Por isso é tão importante o sucesso do pacto proposto pelo novo governo e, ao mesmo tempo, tão preocupante um eventual fracasso.

Assim, é necessário que o pacto parta de bases sólidas de entendimento, a começar pelo diálogo e cooperação entre os dois mais importantes atores da economia: as empresas e os trabalhadores. A sinergia entre ambos, com foco na meta do crescimento econômico, do controle da inflação, da criação de empregos, da qualidade, produtividade e competitividade dos produtos e serviços nacionais, é decisiva para o sucesso do pacto. Ao se entenderem nesses pressupostos, trabalhadores e empresas estarão dando exemplo positivo e contribuindo para que o governo e o Legislativo, de municípios, estados e União, também se engajem de forma mais comprometida no esforço fiscal, nas reformas até hoje postergadas e em políticas públicas mais adequadas ao crescimento econômico e melhoria do quadro social.

É necessário demonstrar que capital e trabalho não têm mais os ranços do antagonismo do século passado e que são integrantes do mesmo esforço de desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida de toda a nação. Nesse sentido, devem ser multiplicados os exemplos positivos, como o acordo coletivo que acaba de ser celebrado entre os sindicatos de empresas e trabalhadores gráficos do Estado de São Paulo. Foi uma demonstração clara de que a relação civilizada, um trabalho conjunto e constante na comissão paritária e o entendimento são as principais e mais sólidas bases para a consolidação de um pacto social forte, duradouro e com bons resultados.

O sucesso de proposta dessa natureza depende de acentuada dose de desprendimento por parte de todos os envolvidos. O radicalismo e a incapacidade de dialogar condenariam ao insucesso a proposta de pacto antes mesmo que pudesse ser negociada.

Silvio Roberto Isola

é empresário gráfico, é presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo (Sindigraf).

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