A rigor, o Atlético-PR não conseguiu mandar o jogo contra o São Paulo na Arena
da Baixada por causa de um muro – que nem existe mais. Foi ao chão na
sexta-feira para a instalação de uma arquibancada tubular, tentativa desesperada
da diretoria do clube para deixar o estádio com os 40 mil lugares necessários
para sediar a final da Libertadores, esforço que acabou em
frustração.
Mas a briga e a revolta com a Conmebol e a diretoria do São
Paulo foram apenas conseqüência de uma longa batalha jurídica, envolvendo o
Atlético, o advogado Marcelo Gava e o Colégio Expoente, há 20 anos ocupando
parte da área onde o clube planeja construir as arquibancadas fixas que fecharão
o estádio, tornando-o, de fato, uma arena.
A ironia é que finalmente a
construção poderá ser feita. Isso porque, enquanto levantava a arquibancada
tubular, a diretoria do Atlético chegou a um acordo que vai permitir a
realização da obra.
Atlético e Marcelo Gava são proprietários, em partes
iguais, da área onde está o colégio. Eles cobravam cerca de R$ 8 milhões do
Expoente em aluguéis atrasados. No dia 1º de julho, o clube decidiu abrir mão de
sua parte da dívida, em troca da desocupação do terreno, o que será feito em 31
de dezembro de 2006.
E na terça-feira, o Atlético praticamente fechou a
compra dos 50% que pertencem ao advogado. Ou seja, passará a ser dono integral
do terreno.
O Expoente foi, por muito tempo, considerado culpado pela
confusão que impedia a conclusão da Arena. Mas não aceita ser o vilão da
história. "Nós alugamos o terreno em 1985, quando o Estádio Joaquim Américo
estava desativado e o Atlético jogava no Pinheirão e fizemos o colégio. Jamais
iria correr o risco de construir uma escola ao lado de um estádio", contou
Armindo Angerer, diretor da instituição de ensino.
"Depois que eles
decidiram construir a Arena, por três vezes entramos em acordo, mas na hora de
assinar, o Atlético dava para trás. Não tinha dinheiro para concluir a obra e
culpava o colégio", lembrou o diretor do Expoente. Ele também nega que o
problema tenha persistido porque é torcedor do Coritiba e teria dificultado um
acordo para não ajudar o rival. "Não existe isso. Eu não torço para nenhum dos
dois. Mas meu diretor financeiro, por exemplo, é atleticano
fanático."
Armindo Angerer também contesta a dívida referente ao aluguel,
alegando que o Expoente interrompeu os pagamentos por não concordar com os
valores determinados por perito judicial. "Se estivéssemos inadimplentes,
teríamos sido despejados", explicou.
Com o acordo de 1º de julho, a
dívida com o Atlético deixou de existir e o colégio passará a pagar um aluguel
que considera justo enquanto mantiver a ocupação do terreno. Falta, agora, o
Expoente se acertar com Marcelo Gava. "Estamos em tratativas. Com o abatimento
referente aos benefícios que fez no terreno, o Expoente ainda tem dívida com meu
cliente de cerca de R$ 2,5 milhões. Mas creio que chegaremos a um acordo", disse
Iguacimir Franco, advogado de Marcelo Gava.
Ele afirmou que Marcelo Gava
não coloca mais nenhum empecilho para que o Atlético comece a finalização da
Arena, inaugurada em junho de 1999. O fato de o colégio permanecer no terreno
também não significa impedimento, pois já liberou o local onde as obras terão de
ser realizadas.
O clube, porém, ainda não definiu quando isso será feito.
E não sabe sequer se vai manter as arquibancadas tubulares, com as quais teve
despesa de R$ 1 milhão. "Vai depender de uma negociação com a empresa que
contratamos. Se não chegarmos a um acordo em relação ao aluguel, a arquibancada
será desmontada", explicou a assessoria de imprensa do Atlético. Nesse caso, o
muro vai ser levantado novamente. Sem briga, desta vez.