Atitude do governo britânico com a morte de Menezes irrita Itamaraty

A atitude do governo britânico diante da morte de Jean Charles de Menezes
continua causando irritação no governo brasileiro.

A revelação, ontem, do
status imigratório do brasileiro pelo Ministério do Interior britânico, véspera
do funeral de Menezes, foi considerada um "ato de extremo mau gosto e
oportunismo" por fontes diplomáticas brasileiras.

Segundo elas, hoje
seria um dia no qual as atenções se concentrariam sobre o funeral de Menezes na
cidade mineira de Gonzaga e as manifestações de solidariedade aos familiares no
Brasil e Reino Unido, mas a revelação de que Menezes estava em situação ilegal
ajudou a desviar a atenção da imprensa.

Elas acrescentaram que o governo
britânico parecem "estar adotando uma estratégia de manipulação da opinião
pública" para tentar isentar a polícia da responsabilidade sobre o
caso.

As relações entre os dois governos em torno do incidente vêm se
deteriorando desde que no sábado surgiram os primeiros rumores sobre a
identidade da pessoa morta pela polícia em Stockwell na sexta-feira
passada.

O consulado brasileiro demorou para ser informado sobre pelas
autoridades britânicas. Além disso, causou irritação em Brasília a demora do
secretário britânico de Exterior, Jack Straw, em se reunir com o ministro Celso
Amorim, que estava em Londres.

O encontro somente aconteceu na tarde de
segunda-feira e foi marcado por um clima de mal-estar. O governo brasileiro
também recebeu negativamente as declarações de autoridades britânicas, inclusive
do primeiro-ministro Tony Blair, que se desculparam pelo erro policial, mas
tentaram justificar o incidente.

Esse clima de desconfiança de Brasília
se estende à Independent Police Complaints Commission, comissão independente que
investigará o comportamento da polícia no caso.

Embora o presidente da
comissão, Nick Hardwick, tenha repetidas vezes garantido que o objetivo "será o
de buscar a verdade", autoridades brasileiras têm demonstrado nos bastidores
dúvidas sobre a isenção da investigação. Isso poderá reforçar a possibilidade de
o governo brasileiro enviar um procurador da República para acompanhar as
investigações.

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